As investigações do esquema de corrupção da JBS envolvem cerca de duas horas de vídeos de monitoramento de suspeitos e ao menos 2.200 interceptações telefônicas.
As filmagens e os grampos serviram de apoio às investigações que basearam os inquéritos contra o presidente Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-SP) e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) –os dois últimos afastados dos cargos.
A Procuradoria Geral da República adotou prática inédita no rol das delações, batizada de “ações controladas”. A PGR grampeou dezenas de telefones e incentivou que executivos da JBS participassem de reuniões com os investigados gravando.
Nos encontros, equipes da Polícia Federal acompanhavam de longe os envolvidos, fazendo vídeo. Uma das cenas mais inusitadas se passa com a irmã do doleiro Lúcio Funaro, Roberta Funaro, presa na última quinta (19).
Ela é filmada entrando em um carro do lobista e delator da JBS, Ricardo Saud, momento em que ela teria recebido uma mala com R$ 400 mil, destinada ao pagamento de mesada em troca do silêncio do doleiro, preso em junho do ano passado. Ela aparece acompanhada de uma menina de quatro anos.
A entrada da mulher no carro é filmada por agentes e por câmeras dentro do veículo. É possível ver nas imagens internas uma bolsa no chão do carro, em frente ao assento do passageiro, onde ela está com a criança no colo.
Roberta faz uma engenharia para despistar possíveis seguidores. Ela sai do carro de Saud, ainda na zona norte de São Paulo, entra em um táxi que a esperava mais adiante e percorre cerca de dez quilômetros até um terceiro veículo, em um estacionamento de um shopping.
O modelo carrega falhas. As três equipes que seguiram a mulher não conseguiram captar bem o momento em que ela salta do último carro com o dinheiro. O local está escuro e nenhum dos policiais consegue imagens nítidas.
Em outra gravação, Rocha Loures é visto saindo às pressas de uma pizzaria em São Paulo com uma mala de dinheiro. Ele joga a mala no bagageiro de um táxi, que já estava preparado com a porta levantada. Um dos policiais ao volante começa a perseguição, mas é alertado a ir devagar para não levantar suspeitas. “Vai na manha. Não fica afobado, não”.
Na impossibilidade de filmar encontros com autoridades, a investigação se valeu de mais de 2.000 grampos e de quebras de sigilos eletrônicos.
Foram interceptadas conversas de Aécio com o senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro do STF Gilmar Mendes. Os grampos em Aécio e Rocha Loures tiveram o aval do Supremo. A interceptação no telefone do deputado captou conversa com o presidente Michel Temer, no último dia 4. Loures consegue falar com Temer por um celular de um assessor, que passa a ligação ao presidente. Eles discutem o interesse em decreto sobre legislação dos portos.