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Categorias: Brasil
| Em 7 anos atrás

Intervenção no Rio não deve deixar resultados duradouros, dizem especialistas

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Devido ao pouco tempo de preparação para a intervenção federal no Rio de Janeiro, as Forças Armadas não puderam se organizar e estruturar suas ações, na tentativa de resolver um problema de segurança pública que vem se desenvolvendo ao longo de décadas.

A avaliação do sociólogo Michel Misse, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e do coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva Filho é de que a intervenção não deve trazer resultados estruturais para a segurança pública do Rio.

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Os especialistas participaram de debate nesta quarta-feira (7) no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), realizado pela instituição em parceria com a Folha de S.Paulo. A mediação ficou a cargo da jornalista Fernanda Mena.

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Com a escalada nos índices de violência no estado, o presidente Michel Temer (MDB) decretou em fevereiro a intervenção federal na segurança pública do Rio, iniciativa inédita no país e que contou com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão (MDB).

Misse afirmou que as Forças Armadas não querem nem devem atuar na segurança pública brasileira. Além da necessidade de maior planejamento das ações, ele citou como problema a falta de treinamento específico para lidar com situações de abordagem de civis, às quais a polícia está habituada.

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De acordo com Misse, a ação do Exército deve aumentar “momentaneamente a sensação de segurança da população, mas não haverá tempo nem recursos suficientes para reestruturação da polícia no estado. “Se eu pudesse sugerir algo ao general [o interventor federal Walter Souza Braga Netto], diria para manter as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora)”, afirmou.

“Sou defensor do modelo porque elas interrompem os ciclos de invasões policiais nas comunidades e oferecem certa proteção aos traficantes, que não precisam se preocupar com a invasão de outras quadrilhas e com operações policiais arbitrárias, diminuindo a violência.”

Outra ação considerada essencial pelo sociólogo é promover a aproximação dos policiais com os moradores das comunidades. “Não tem polícia do mundo que consiga operar de forma eficiente sem a colaboração da população”.

Ele também classificou a intervenção como uma salvação para o governo do estado, que, devido à crise, vinha encontrando dificuldade para responder às exigências de políticas públicas, com destaque para a segurança. “Para o governo federal também foi um excelente negócio”, afirmou. “Com a incapacidade de obter aprovação para a reforma da previdência e uma pauta de corrupção se aproximando, era preciso mudar o tema para essa área muito sensível da segurança, que todos os brasileiros consideram prioridade. Foi uma jogada de mestre de Temer, do ponto de vista político.”

O coronel João Vicente apontou que, apesar de o Rio ter um percentual de homicídios menor que o de outros estados brasileiros, como Bahia e Ceará, a importância do estado vem do fato de ser um centro de negócios e turismo, da quantidade de comunidades dominadas por facções, da grande presença do tráfico de drogas e do forte armamento nas mãos de criminosos. “Defendo até a convocação do general para ficar à frente das forças de segurança”, afirmou.

“A posição requer que ele entenda de estratégia e planejamento de alta complexidade. Há poucos civis capazes de fazer esse trabalho.”

O coronel defendeu também a implantação de medidas como o fortalecimento de delegacias de polícia de bairro e maior número de policiais nas ruas em regiões com histórico de violência. “O que se espera é que essa estrutura de intervenção, que tem um poder maior do que o do secretário de Segurança ou governador, possa encaminhar algumas mudanças críticas para entregar a segurança do Rio reestruturada ao próximo governo federal”, afirmou. “Mas não tem perigo de dar muito certo, porque o tempo é curto para um problema tão complexo.”

Corrupção

João Vicente fez críticas à organização da polícia do Rio, que, segundo ele, atualmente coloca maior contingente em funções burocráticas do que nas ruas e não tem sido capaz de criar mecanismos para romper a influência de criminosos dentro da organização.

Ele citou como exemplo positivo a polícia americana, que na década de 1960 adotou política de intolerância à corrupção. “O fundamento era de que, com uma polícia corrupta, você não conseguiria vencer a violência. Se o Rio tirasse de circulação hoje cinco mil maçãs podres que estão na polícia, a diminuição desse efetivo não faria diferença nenhuma”, afirmou.

Segundo Michel Misse, o tráfico de armas de dentro da polícia do Rio para traficantes começou na década de 1980. A disputa pelo controle das bocas de fumo teria aumentado a demanda de armamento no estado, chegando a criar um esquema de tráfico de armas internacional. “Fazer o controle desse armamento é um ponto estratégico, porque você reduziria o mercado ilegal”, disse.

Misse afirmou, no entanto, que é essencial que o governo tenha legitimidade e apoio suficientes para amparar as políticas públicas de controle da corrupção. “Algo que não deu certo nem mesmo com a legitimidade de governos anteriores”, afirmou. (Folhapress) 

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