O inquérito que investigava suposto crime de violência política de gênero praticado pelo presidente da Câmara dos Vereadores de Aparecida de Goiânia, André Fortaleza (MDB) contra a vereadora Camila Rosa (PSD), foi encerrado. Os elementos serão apresentados nesta segunda-feira (21/03) pela delegada que presidiu as investigações, Luiza Veneranda.

De acordo com es elementos informativos colhidos inicialmente, a autoridade policial entendeu que existiam elementos caracterizadores do cometimento do crime de violência política contra Camila Rosa. “Não é mais aceitável que tais comportamentos tenham espaço no atual cenário político brasileiro, seja por decorrência do estágio de avanço educacional e cultural da nossa sociedade, seja pela aplicação do ordenamento jurídico repressor àqueles que não respeitam a posição política de suas parlamentares”, pontuou.

“A vítima (Camila Rosa) em questão é a única parlamentar da sua atual legislatura, de um total de 25 parlamentares, e corresponde apenas a uma das 5 mulheres vereadoras que foram eleitas desde 1966 no município de Aparecida de Goiânia. A inação do Estado repressor, no caso em análise, poderá contribuir para a continuidade da cultura de violência de gênero na política do nosso Estado, fato que cabe, aos operadores jurídicos, modificar”, destacou Luiza.

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Por meio de nota, o vereador André Fortaleza disse que não havia recebido nenhuma “notificação oficial sobre o inquérito citado” e assim que “receber a notificação emitirá nota de esclarecimento”.

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Relembre o caso

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O debate entre os vereadores na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia começou no começo de fevereiro, quando André Fortaleza rebateu um post do Instagram da parlamentar. Na postagem, Camila Rosa afirmou que usou de seu tempo de fala no retorno das sessões, na terça-feira (1º), para “defender a importância da mulher na política e os direitos de todas as minorias que são rejeitadas e discriminadas na sociedade” e completou escrevendo: “Não toleramos mais preconceitos! Vou lutar até o fim pela igualdade e o respeito. O espaço político é de todos”.

O presidente da Câmara, na sessão desta quarta-feira, citou o post e afirmou: “Não sou contra a classe feminina, sou contra cota, contra oportunismo, ilusionismo. Por mim, não adianta, pode ser mulher, homem, homossexual”. Fortaleza disse ainda que não é machista, mas é “contra fake news” e também não é favorável às cotas femininas nos partidos.

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“Eu não sou machista, sou contra fake news. Isso, para mim, é uma fake news. A classe feminina é importante para todos nós. Temos mães, irmãs. Não me vi ser preconceituoso ou machista porque falei que sou contra cota. Só falei que os direitos devem ser iguais, e os deveres também. Se não tem postura, não tem caráter, para mim não importa se é mulher o homem. Distorcer minha fala, não. Sou responsável pelo que falo. Não é porque é mulher que tem que sair atropelando todo mundo”, discursou.

A vereadora Camila Rosa pediu questão de ordem e foi atendida. A parlamentar rebateu o colega. “Não disse que o senhor era contra cotas. Se o senhor entendeu isso, a carapuça pode ter servido. O senhor sempre fala de caráter, transparência, parece que o senhor tem um problema com isso”, disse.

Nesse momento, se iniciou um bate-boca e Fortaleza ordenou que o microfone da vereadora fosse cortado. “Quer fazer circo, não vai fazer aqui não”, disse. A parlamentar, com o microfone desligado, seguiu reclamando da atitude do presidente, que afirmou: “Se acha que fiz algo errado, vá na delegacia e registre um B.O.”.

Depois que os ânimos se acalmaram, o presidente devolveu a palavra à vereadora. Ela, chorando, defendeu que as minorias representativas ocupem espaços de poder como modo de transformação social, além de reclamar da atitude do colega.

“É isso que fazem com as mulheres na política. É por isso que precisamos procurar nossos direitos. Não é uma questão de correr atrás de cota. A política é um espaço machista. No início da política, como eu disse ontem, só homens brancos e de alto poder aquisitivo. É necessário que nos espaços de poder estejam mulheres, negros, índios e pessoas da comunidade LGBT, que representam essas classes que sofrem a dor do preconceito”, frisou.

Camila Rosa ainda reforçou que não atacou Fortaleza no post e o acusou de querer atingir o secretário de Articulação Política, Tatá Teixeira, atacando-a. “Eu não disse que o senhor era contra cotas. É o senhor que está dizendo. Agora, o senhor querer me desmoralizar por um motivo que a gente sabe qual é – o senhor não quer me atacar, quer atacar o secretário Tatá (Teixeira, de Articulação Política). Eu não quero estar nessa briga de vocês. Não venha o senhor querer me desmoralizar. Não vou aceitar isso”, disse.

Retratação

Após a repercussão com relação ao ocorrido, André Fortaleza publicou uma nota de esclarecimento com o pedido de desculpas às mulheres de Aparecida de Goiânia, com a ressalva de apoiar a classe feminina. “De forma sincera, não esperava tamanha repercussão por ter cortado o microfone de uma parlamentar durante um debate acalorado”, escreveu o parlamentar. “Em respeito a todas as mulheres deste município, me sinto na obrigação de me desculpar e venho por meio deste, também, esclarecer meu total apoio para a classe feminina e reforçar que palavras nunca vão ter o mesmo valor de ações”, acrescentou.

Camila ressalta, entretanto, que a ação não foi estendida à ela. “Ele não me procurou, nem ninguém da sua assessoria. Eu tomei conhecimento através das redes sociais que eles tinham soltado uma nota pedindo desculpas às mulheres. Mas direcionado à minha pessoa, não disseram nada”, ponderou.

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