A inflação encerrou o ano de 2017 em 2,95%, divulgou o IBGE nesta quarta-feira (10). O valor, que corresponde ao índice acumulado no ano, ficou abaixo do piso da meta do Banco Central, de 4,5% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
O descumprimento da meta em 2017 já era esperado pelo mercado. Com o resultado, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, deverá enviar uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicando por que a inflação não ficou dentro do estipulado.
De acordo com o BC, a carta será divulgada nesta quarta às 17h30. “Parte do regime de metas para a inflação no Brasil, a carta aberta é um instrumento pelo qual o Banco Central presta contas à sociedade sobre o cumprimento das metas fixadas pelo CMN [Conselho Monetário Nacional]”, afirmou a instituição, em nota.
Será a primeira vez que ocorre tal situação desde que foi criado o sistema de metas de inflação, em 1999. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) publicada, publicada em 12 de dezembro do ano passado, o BC culpou os alimentos pelo desvio da meta.
O resultado acumulado do ano foi o mais baixo desde 1998. Foi também a primeira vez desde 1999 que a inflação no ano ficou abaixo do piso da meta do governo, de 3%.
Entre os efeitos econômicos da inflação baixa, estão maior poder de compra da população e possibilidade de redução da taxa de juros.
Segundo o IBGE, foi o setor de alimentos e bebidas, que compõem cerca de 25% das despesas das famílias, o que mais contribuiu para que o IPCA ficasse abaixo da meta.
Os alimentos recuaram 4,85% em 2017, com destaque para as frutas (-16,52%), que tiveram o maior impacto negativo (-0,19 p.p.) no índice geral.
Segundo o gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, Fernando Gonçalves, a queda do preço dos alimentos foi consequência da produção agrícola, que teve uma safra cerca de 30% superior a 2016.
“Essa situação levou o consumidor a pagar mais barato (-1,87%) do que no ano anterior. É a primeira vez que o grupo apresenta deflação desde a implementação do Plano Real”, diz Gonçalves.
Ainda segundo o IBGE, a queda nos preços dos alimentos ocorreu principalmente por conta dos alimentos para consumo em casa.
“Com 15,67% de peso [no índice], estes alimentos caíram 4,85%, enquanto a alimentação consumida fora de casa, que pesa 8,88%, subiu 3,83%”, afirmou o órgão.
Os alimentos ficaram mais baratos no ano em todas as regiões pesquisadas, variando de queda de 0,21% em Brasília a 4,28% em Belém. Em São Paulo, a redução foi de 0,47%, enquanto no Rio a queda foi de 0,91%.
A queda dos preços dos alimentos compensou as altas recentes dos chamados preços administrados, que são aqueles cujos reajustes são definidos por governos, como gasolina e energia elétrica.
Segundo o IBGE, 7 das 10 maiores altas do IPCA foram em produtos e serviços de preços administrados.
Segundo Gonçalves, há expectativa de que a safra deste ano seja um pouco menor do que a observada em 2017. “Os preços estão voltando a se realinhar, a economia está começando a voltar, assim como os empregos. Os indicadores estão voltando a patamares normais”, disse Gonçalves.
Para 2018, a expectativa de analistas é que a inflação continue sob controle.
O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), também divulgado pelo IBGE nesta quarta, encerrou o ano acumulado em 2,07%. O índice é utilizado como parâmetro para reajustes salariais, inclusive do salário mínimo, que com esse resultado ficou abaixo da inflação observada.
Enquanto alimentos caíram, outros itens mostraram altas. Os que mais influenciaram o aumento da inflação foram habitação (6,26%), saúde e cuidados pessoais (6,52%) e transportes (4,10%).
“Na habitação, as principais influências da alta vieram de produtos como o gás de botijão (16%), a taxa de água e esgoto (10,52%) e a energia elétrica (10,35%)”, informou o IBGE, que atribui a situação, em parte, ao reajuste de 84,31% nas refinarias, que contribuiu para o aumento no preço do gás de cozinha vendido em botijões de 13kg.
O setor de saúde e cuidados pessoais foi influenciado pelos planos de saúde, que ficaram 13,53% mais caros, e dos remédios (4,44% de aumento).
A gasolina subiu 10,32%, contribuindo para a inflação dos transportes. Em 2017, o combustível foi afetado pelo reajuste de PIS/Cofins, além de ter tido 115 reajustes nos preços nas refinarias, com aumento acumulado de 25,49% de 3 julho a 28 de dezembro de 2017 (final da coleta do IPCA de dezembro), dentro da nova política de preços da Petrobras.
Em dezembro, o IPCA ficou em 0,44%, a maior variação mensal de 2017, principalmente por causa dos alimentos, que subiram 0,54% no período, e dos transportes, com alta de 1,23%.
Com a alta de dezembro, os alimentos encerraram sete meses seguidos de queda. O IBGE atribui a variação à alimentação consumida em casa, com alta de 0,42%.
“Apesar de alguns produtos terem caído de preços, como o feijão-carioca (-6,73%) e o leite longa vida (-1,43%), outros, também importantes na mesa dos brasileiros, exerceram pressão contrária, como as carnes (1,67%), as frutas (1,33%), o frango inteiro (2,04%) e o pão francês (0,67%)”, afirmou o órgão.
A alimentação fora de casa subiu 0,74% no mês.
Passagens aéreas também ficaram mais caras, com alta de 22,28%, e o litro da gasolina subiu 2,26%.
“Juntos, com impacto de 0,18 p.p., estes dois itens representaram 41% do IPCA de dezembro”, disse o IBGE.
O grupo habitação ficou 0,4% mais barato, com impacto para baixo por conta da redução de 3,09% na conta de luz. No mesmo grupo, porém, houve alta de 1,09% no botijão de gás.
Considerando as regiões, São Paulo foi onde houve a maior inflação em dezembro: 0,62%, contra queda de 0,18% em Belém. (Folhapress)