Dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), apontam que, o indicador do preço médio do bezerro passou de R$ 2.938,68 em julho de 2021 para R$ 2.684,74 em julho de 2022. O valor, referente por cabeça e ao estado do Mato Grosso do Sul, representa, no comparativo, uma queda de cerca de 9%. Em Goiás, o cenário de queda também foi percebido nas últimas semanas: o índice ultrapassou os 5% e, sobre o assunto, o Diário de Goiás conversou com dois especialistas.
O analista pecuário do IFAG, Marcelo Penha, destacou que, na comparação com o mesmo período de 2021, a queda no preço do bezerro foi de 5,6%. “Em julho de 2021, a gente teve um bezerro que valia na casa dos R$ 2.560,00 em média. Em julho de 2022, este valor caiu para cerca de R$ 2,5 mil”, afirma.
Para o analista, o impacto na queda do respectivo preço é considerável para os produtores. “Temos uma pecuária muito grande e diversificada no Brasil. Goiás tem em torno de 23 milhões de cabeças de gado, então para quem trabalha com a fase de cria, que é a fase em que a pessoa vende bezerro, o impacto é sim considerável porque o produtor já investiu muito em genética, tecnologia e manejo, por exemplo”, afirma.
Ele explica que, ao ser olhada como um todo, a pecuária precisa estar em equilíbrio, tanto na fase de cria, quanto na de recria e de engorda. “Quando todos esses elos conseguem ter remuneração na atividade, chamamos de equilíbrio perfeito e o que estava acontecendo é que a cria estava sendo mais remunerada. Isso descompensou quem trabalha com a fase de recria e engorda, porque quem estava ganhando mais era o criador”, detalha Penha.
Outro aspecto que tem acontecido, segundo Penha, é que o tempo de produção tem sido encurtado. “Antigamente, dez, 15 anos atrás, tínhamos um boi abatido acima de 3 anos. Hoje, abatemos com 14, 15 e até 20 meses. E quem trabalha com a fase da recria, em que a desmama costuma ser até os 12 meses, acaba pegando o bezerro com oito meses, então esse produtor ficou penalizado”, afirma.
Com esse ciclo pecuário, o especialista explica que, de tempo em tempo, há um aumento na produção de bezerro. “Os pecuaristas estão percebendo que criar é um bom negócio. Então aumentou muito a oferta e aí o preço caiu. A tendência é o preço cair porque a demanda é menor que a oferta. No mês de março e abril, houve uma queda considerável, um bezerro que valia na faixa de R$ 3 mil, começou a ser vendido por R$ 2,2 mil”, completa.
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Já de acordo com o diretor técnico da Associação Goiana do Nelore (AGN), Diego Gracia, alguns outros motivos podem explicar a queda do índice. “Acredito muito que a queda se deve a cautela dos recriadores e invernistas (que compram o bezerro para engordar), que estão procurando ganhar um preço um pouco mais baixo pela reposição e também porque todos os custos aumentaram. Desde o custo do pasto, ração, sal mineral, o custo da venda subiu bastante e, se colocar a reposição no mesmo preço, a conta não fecha”, afirma.
O diretor técnico também avalia que a queda nos preços não é positiva. “Por conta do cenário dos custos que estamos vivendo hoje, custos altíssimos em diversos segmentos. Tendo essa queda, o produtor acaba sendo afetado diretamente”, aponta. Entretanto, para ele, a expectativa é de que o segundo semestre seja melhor. “Acredito que no próximo semestre a arroba vai dar uma recuperada e o preço de reposição também. Talvez não chegue nos patamares de preço de antigamente mas vai ter uma recuperação boa”, finaliza Gracia.