Embalados pelo desempenho ascendente na disputa do primeiro turno, integrantes do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) fizeram uma reunião para lavar roupa suja e tentar unificar o discurso. Uma das decisões foi a de tutelar o polêmico vice do presidenciável, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB).
Desde que o presidenciável foi esfaqueado, no dia 6, grupos rivais de seu entorno buscaram protagonismo, aumentando a já notória cacofonia da cadeia decisória do bolsonarismo.
Mourão sobressaiu-se nesse movimento, reivindicando participação em debates no lugar do candidato, só para depois retroceder.
Também cumpriu uma agenda recheada de entrevistas e palestras nos quais algumas de suas polêmicas posições foram evidenciadas, como a citação sobre a eventualidade de um autogolpe presidencial ou a noção de que lares tocados por mulheres pobres são “fábricas de desajustados”. Com tudo isso, conforme a Folha de S. Paulo adiantou, o incômodo obrigou ao realinhamento na campanha.
O general não estava presente, pois cumpria agenda em Botucatu (SP). Ficou na linha com um colega da patente na reserva, o influente Augusto Heleno. Ele, que vinha evitando se envolver em temas eleitorais, será a ponte do grupo com o vice. Ressaltando ser amigo do militar, o criticou. “Qual é a experiência política do Mourão? Ele está engatinhando ainda. Ele fala e acha que não vai ter repercussão”, disse.
O presidente do partido de Mourão, Levy Fidelix, estará totalmente alijado dos debates internos. As palavras com que membros do entorno de Bolsonaro se referem a ele são impublicáveis.
Com Bolsonaro fora de combate, a campanha havia perdido o ponto focal e moderador de conflitos. Assim, entre os presentes na reunião desta terça (18) em um flat nos Jardins (zona sul de São Paulo), estavam rivais de disputas anteriores.
Gustavo Bebianno, o centralizador presidente interino do PSL e advogado de Bolsonaro, foi confrontado por Eduardo, deputado filho do presidenciável. As crises entre os dois sobre procedimentos da campanha e sobre o papel do vice-presidente da sigla, Julian Lemos, foi um dos pontos mais tensos da relação até aqui.
Estiveram presentes o economista Paulo Guedes; o general da reserva Augusto Heleno; o senador Magno Malta (PR-ES); o dono do PSL Luciano Bivar; Bebianno e Julian Lemos; o ex-presidente do PSL Antonio de Rueda; os filhos de Bolsonaro, Eduardo e Flávio; o deputado federal Major Olímpio (PSL-SP); o ruralista Nabhan Garcia; e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
A expectativa agora é trazer a figura hospitalizada de Bolsonaro para o debate eleitoral. Os presentes concordam que ele é o único ativo eleitoral à disposição do grupo. “Somos uma equipe com um capitão. O restante é todo de soldados”, disse Eduardo.
Vídeos como o do domingo passado, no qual ele apareceu bastante fragilizado e fez um discurso colocando a lisura das urnas eletrônicas em suspeição, deverão acontecer novamente, mas com melhor modulação.
Não passou despercebida a reação do presidente do Supremo, Dias Toffoli, que rebateu as insinuações de Bolsonaro. Tentando vender uma imagem de normalidade institucional, a última coisa que o entorno do candidato deseja é a promessa de um antagonismo de saída com o chefe do Judiciário. (Folhapress)