A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirma em seu relatório sobre perspectivas econômicas divulgado nesta quarta (7) que a incerteza política no Brasil representa “riscos significativos” para o crescimento econômico do país.
A afirmação, contudo, não preocupou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que está na sede da OCDE, em Paris, para acompanhar a reunião ministerial anual do chamado “grupo dos ricos”.
O ministro acredita que órgão não se refere aos recentes escândalos envolvendo o presidente Michel Temer e pessoas ligadas a ele e não é a principal preocupação dos investidores.
Para Meirelles, a OCDE -para a qual o Brasil enviou pedido formal de adesão na semana passada- não está falando de casos relacionados aos últimos dias ou semanas no país, mas em questões políticas que ocorreram “ao longo do último ano e até de um período mais prolongado”.
Para o ministro, o que está ficando claro para seus interlocutores em Paris é que o Brasil retomou o crescimento. “Portanto, o foco importante aqui é o longo prazo, da entrada do Brasil na OCDE e do processo que já iniciamos no último ano”, disse.
“Os investidores estão preocupados com as perspectivas para o seu investimento. Em resumo: qual será o crescimento do país nos próximos anos”, afirmou Meirelles, negando que seus interlocutores estejam preocupados com a questão política no país.
O ministro disse, ainda, que o crescimento do PIB brasileiro para 2018 deve ultrapassar as projeções da OCDE e ficar acima de 1,6%.
Segundo ele, a economia brasileira deve entrar 2018 crescendo a um ritmo de 3% -o que poderia levar a um crescimento maior do que o previsto pelo organismo.
Para 2017, as projeções se invertem e é órgão que prevê crescimento maior: 0,7%, contra 0,5% do Ministério da Fazenda.
“Não existe erro e acerto em previsão. O que existe são previsões mais conservadoras, previsões que eu chamaria de realistas e, também, as otimistas. É normal que órgãos multilaterais -seja OCDE, FMI ou Banco Mundial- tendam a ser conservadores nas suas previsões”, afirmou o ministro.
Em relação a uma possível influência política na decisão tomada pelo Banco Central (BC) na semana passada de cortar a taxa básica de juro em um ponto percentual, de 11,25% para 10,25%, Meirelles disse que é normal o banco dar esse tipo de sinalização aos mercados.
“Ele [BC] deu a indicação clara aos mercados de que ele iria seguir monitorando a evolução da atividade econômica e das perspectivas de inflação e, principalmente, ‘olha, vamos olhar a evolução dos acontecimentos e todos os riscos envolvidos'”, explicou o ministro.
O ministro comentou ainda a citação do seu nome em duas das 82 perguntas enviadas pela Polícia Federal ao presidente Temer na última segunda-feira.
Numa delas, a PF pergunta ao presidente se ele teria autorizado o empresário Joesley Batista a apresentar “pontos de interesse” a Meirelles, quais seriam esses “pontos” e se o presidente tem conhecimento se isso aconteceu. “Eu fiquei sabendo disso pelos jornais”, disse, negando ter tido esse tipo de contato com o empresário relacionado à questão.
Meirelles fica em Paris até sexta-feira. Além da reunião ministerial da OCDE, o ministro realiza uma série de encontros bilaterais e com empresários, e participará do Fórum Econômico Internacional América Latina e Caribe. (Folhapress)