Longe de aliviar os investidores, o quarto dia de julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nesta sexta-feira (9), deixou incertezas no ar, aumentando a preocupação no mercado financeiro e fazendo a Bolsa brasileira recuar e o dólar subir.
O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa, fechou em baixa de 0,87%, para 62.210 pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 7,2 bilhões, acima do registrado nas sessões anteriores, mas ainda abaixo da média diária do ano, que é de R$ 8,3 bilhões. Na semana, o índice recuou 0,48%.
O dólar subiu mesmo com a atuação diária do Banco Central para tentar dar proteção a investidores contra a valorização da moeda americana. O dólar comercial avançou 0,79%, para R$ 3,291. O dólar à vista, que fecha mais cedo, recuou 0,08%, para R$ 3,277. A valorização da moeda americana na semana foi de 1,1%.
No mercado, a avaliação é de que o julgamento envolvendo a chapa que tinha Michel Temer como vice será favorável ao presidente, com votação final de 4 a 3 pela absolvição. Mas, segundo Paulo Gomes, economista da Azimut Brasil Wealth Management, a preocupação dos investidores está na aprovação das reformas trabalhista e da Previdência.
“Não acho que o mercado tenha reagido à votação. O investidor acompanha tudo isso, mas já precifica a o resultado sobre a aprovação das reformas. Embora seja provável que Temer permaneça, há a percepção de que ele perdeu capital político para aprovar as reformas”, diz.
Alexandre Wolwacz, sócio-fundador do Grupo L&S, também vê o mercado nervoso com a falta de definição no cenário político. “Os investidores começam a lembrar do processo de impeachment da Dilma, de como o Brasil ficou parado e sem conseguir definir seu cenário macroeconômico a partir de uma perspectiva mais ampla”, diz.
Na falta de uma perspectiva em relação ao resultado do julgamento e do impacto sobre as reformas, os investidores preferiram vender ações e comprar dólares e zerar posições, afirma.
O Banco Central vendeu integralmente a oferta de 8.200 contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) para rolagem dos contratos que vencem julho. Com isso, já rolou US$ 1,640 bilhão do total de US$ 6,939 bilhões que vence no mês que vem.
O CDS (credit default swap), medida de risco do país, subiu 0,10%, para 237,1 pontos.
Os papéis da Natura lideraram as baixas do Ibovespa nesta sessão, com queda de 7,73%. A empresa anunciou negociação com a L’Oréal para aquisição da companhia de cosméticos britânica The Body Shop por 1 bilhão de euros.
“É uma proposta ousada, pois o dinheiro sai do caixa da empresa. Embora a Natura esteja crescendo e buscando a aquisição para aumentar sua participação de mercado, o investidor vê uma grande quantidade de capital sendo retirado do caixa da empresa”, analisa Wolwacz, do Grupo L&S. No curto prazo, a operação afeta a perspectiva de distribuição de dividendos -parte do lucro atribuída aos acionistas.
As ações da JBS recuaram 2,67%, após uma nova operação da Polícia Federal atingir a empresa, em investigação do suposto uso de informações privilegiadas pela JBS e por sua controladora, a FB Participações, no mercado financeiro.
“O mercado precifica o impacto de todas as coisas nas quais a JBS está envolvida e percebe que existe um prejuízo forte para a marca. A empresa tem um elevado nível de endividamento e dívidas que estavam sendo pagas pelo lucro que produzia”, diz Wolwacz. “Então agora há a percepção de que a empresa pode estar um pouco frágil do ponto de vista de fluxo de caixa, e isso pressiona as cotações para baixo.”
A mineradora Vale fechou em alta, apesar da queda dos preços do minério de ferro no exterior. Os papéis mais negociados da empresa subiram 0,78%, para R$ 25,72. As ações com direito a voto subiram 1,04%, para R$ 27,30.
Os papéis mais negociados da Petrobras subiram 0,08%, para R$ 12,85. As ações que dão direito a voto avançaram 0,58%, para R$ 13,78. Os preços do petróleo subiram nesta sexta. (Folhapress)