O lobista da JBS Ricardo Saud, apontado como o operador da distribuição de propina da empresa a políticos, disse em depoimento que o dono da JBS, Joesley Batista, e o presidente Michel Temer tinham uma senha para se referir ao pagamento de mesadas na cadeia a ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro.
O objetivo era mantê-los calados, sem delatar os esquemas de propina da empresa a autoridades brasileiras. “Dar alpiste aos passarinhos na gaiola” era a forma como eles se referiam à operação.
Segundo Saud, certa vez, Temer quis saber de Joesley como estavam os repasses.
“O Michel Temer sempre pedia para manter eles lá. O código era ‘tá dando alpiste pros passarinhos? Os passarinhos tão tranquilos na gaiola?'”, relatou Saud em depoimento prestado no dia 10 de maio à PGR (Procuradoria-Geral da República).
O vídeo do depoimento consta na delação premiada dos executivos da JBS. De acordo com o lobista, a propina paga em parcelas eram provenientes de contrato fraudulento para obter recursos do fundo de investimento do FGTS, liberados por influência do então vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, alvo de investigação em janeiro pela Lava Jato.
Foi quando as parcelas do acordo estavam perto do fim, que a JBS passou a pagar, então, pelo silêncio da dupla.
Inicialmente, segundo Saud, era Geddel Vieira Lima, então ministro da Secretaria de Governo de Temer, quem cobrava Joesley Batista para “dar alpiste aos passarinhos”.
Em janeiro deste ano, quando o apartamento de Geddel foi alvo de ação de busca e apreensão da Polícia Federal, o presidente Michel Temer passou a a ser o responsável por cobrar os acertos, disse Saud.
“Quando o Geddel foi abatido no meio do caminho, o Joesley foi conversar com o Michel Temer. Nessa conversa o Joesley falou: ‘ó, tá acabando o alpiste dos passarinhos’. ‘Como é que vai fazer, como nós vamos fazer para melhorar isso?'”, relatou.
Temer teria respondido, ainda segundo o delator: “não, continua, continua, isso é muito importante”.
Segundo Saud, a empresa estava tendo dificuldade em encontrar uma forma de operacionalizar recursos para os pagamentos. Joesley teria decidido pagar mais algumas parcelas e parar com os repasses.
O empresário teria demonstrado certa insatisfação por pagar pelo silêncio dos presos, cujo interesse extrapolaria questões não só da empresa, mas de todos os possíveis implicados em delações de Funaro e Cunha.
O executivo teria dito: “não vamos mais segurar ninguém, não”. “O Joesley foi lá para deixar claro, foi lá explicar que não tinha mais dinheiro, que esse ia ser o último pagamento, tanto para o Cunha, tanto pro Lúcio”, disse.
Temer teria respondido: “não, não, arruma um jeito de pagar lá”.
OUTRO LADO
Procurada, a assessoria do presidente Michel Temer ainda não respondeu. As defesas de Cunha e Funaro ainda não foram localizadas, assim como Geddel Vieira Lima. (Folhapress)