MARIANA CARNEIRO E JULIO WIZIACK
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, optou pelo executivo Roberto Campos Neto, 49, na presidência do Banco Central.
A permanência do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, também foi confirmada nesta quinta-feira (15).
Guedes já tem três nomes fechados para integrar a nova equipe econômica -o novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Joaquim Levy, foi anunciado no início da semana.
Diretor do Santander, Campos Neto já era considerado para a tarefa desde antes da eleição. A seu favor, ele tem a experiência no setor bancário e no mercado financeiro, além da total confiança do futuro ministro.
Integrantes da equipe de transição afirmam que o futuro presidente conhece a cozinha da relação dos bancos com o BC, o que lhe garante traquejo para lidar com corridas especulativas contra o real, por exemplo.
À frente da Tesouraria do Santander, ele comandava as operações financeiras do banco no Brasil e também na América Latina. Seu nome chegou a ser cogitado para uma diretoria global do Santander, em setembro.
Desde a semana passada, começou a trabalhar na equipe econômica de transição, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), e por isso seu nome para ocupar um cargo no governo passou a ser ventilado de maneira mais forte.
Guedes, no entanto, tentou manter o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, no cargo, como uma forma de sinalizar apoio a um BC formalmente independente de interferências políticas.
Em encontros antes e após a eleição, chegou a sondar o titular, que por sua vez preferiu deixar o governo.
Um convite formal nunca chegou a ser feito, mas Guedes sempre deixou claro a interlocutores que um dos critérios de seleção da equipe é a motivação para trabalhar no governo Jair Bolsonaro (PSL).
Em nota divulgada nesta quinta-feira, Ilan falou em “motivos pessoais” para deixar o governo.
Segundo integrantes da equipe do presidente eleito, Ilan se ofereceu para ficar até junho de 2019. O interesse de Guedes, porém, era que ele ficasse no cargo até 2020, fechando um mandato de quatro anos descasado com o do presidente da República.
Esse é um dos pilares da chamada independência do BC, cujo projeto de lei está em tramitação na Câmara. Ilan foi um dos formuladores do texto e, dessa maneira, sua permanência até 2020 era considerada natural.
Pelo discutido até o momento na equipe de Bolsonaro, a atual diretoria do BC, formada por economistas indicados por Ilan, deverá permanecer para uma transição ao longo de 2019 e até 2020.
A ideia é que os membros sejam trocados de maneira escalonada, o que também evoca o projeto de independência do BC.
Além do presidente, os diretores também teriam mandatos fixos de quatro anos e a sua substituição seria feita em rodízio.
Guedes é defensor do BC independente e havia sinalizado apoio ao projeto em discussão na Câmara.
A saída de Ilan, contudo, enfraquece a proposta. A sua permanência era um dos motores para fazer o texto andar no Congresso. Sem ele, pelo menos este fator de pressão acabou perdido.
Pelo redesenho ministerial que o time de Bolsonaro pretende imprimir, o novo presidente do BC não deverá mais ter o status de ministro. A perda do status está prevista no projeto de lei.
Guedes também confirmou, nesta quinta, o primeiro integrante de sua equipe no Ministério da Fazenda.
O atual titular do Tesouro, Mansueto Almeida, aceitou o convite para ficar no governo e, com isso, pilotará o ajuste fiscal sob Bolsonaro.
Um dos formuladores do teto de crescimento dos gastos públicos, Mansueto terá como missão acelerar o plano de zerar o déficit nas contas do governo.
A expectativa é que o rombo fiscal neste ano seja ao redor de R$ 120 bilhões.
Pelo desenho atual do governo, o déficit não seria zerado antes de 2022. Durante a campanha, porém, Guedes se comprometeu recolocar as contas no azul em um ano.