Diante dos atos bolsonaristas organizados para a próxima terça-feira (7), dia da Independência do Brasil, há indícios de que existem incentivos por parte do Governo Federal para uma pressão institucional, em especial ao Supremo Tribunal Federal (STF). A opinião é do professor e doutor em sociologia, José Elias Domingos.
Em entrevista ao Diário de Goiás, o especialista afirmou acreditar se tratar de uma massa de manobra utilizada em favor da atual gestão, durante um atual período de desgaste. “Acredito que é uma tentativa do Bolsonaro de fazer uma pressão institucional, instrumentalizando o poder das ruas”, disse. “Ele já não tem índices tão exorbitantes de aprovação. Muito pelo contrário, beira a casa dos 20 a 25% nas últimas pesquisas, com rejeição acima de 60%. Então a tendência do Bolsonaro é radicalizar o discurso, como vem fazendo, incentivando determinados grupos, inclusive grupos muito radicais, a justificar a inoperância de seu governo”, completou.
O sociólogo pondera que a justificativa de Bolsonaro para que seu governo não ande é o Congresso, em especial o STF. “Eles usam isso sempre de uma maneira, até um bode expiatório, para fazer com que seus próprios erros não sejam reconhecidos”, pontuou José Elias Domingos, que acredita que as manifestações de 7 de setembro não são organizadas de forma espontânea. “São manifestações também comentadas pelo governo. Elas não nascem de fora para dentro do governo, mas tem muito incentivo de dentro para fora. O Bolsonaro vem tentando instrumentalizar esse contingente de pessoas que estará no dia 7 de setembro para fazer pressão ao STF, principalmente”, salientou.
O especialista ressalta que o presidente faz pressão, hoje, ao Legislativo, mas principalmente ao STF, na figura dos dois ministros, Alexandre Moraes e Luís Roberto Barroso. “A questão é que Bolsonaro tem plena ciência de que é inviável qualquer tipo de ruptura institucional, mediante a fazer um ‘ctrl+c’ e ‘ctrl+v’, vamos dizer assim”, afirma o sociólogo, com a ressalva de que a tentativa é a de resgatar certos arcabouços de ação que existiram no Brasil, como no golpe militar de 1964. “É totalmente diferente”, destaca.
José Elias Domingos destaca, ainda, a tonalidade das atuais manifestações, levando em consideração que antes falava-se muito na questão do STF, por meio das redes sociais. Já agora, o foco está voltado à democracia. “O alvo central é o STF, mas parece que eles deram uma guinada agora para justificar as manifestações em prol da necessidade de garantir a democracia”, pontuou. “Veja como é paradoxal isso. Eles vão no dia 7 de setembro para garantir a democracia, mas instrumentalizam discursos golpistas”, observa o sociólogo.