Uma forma de socorrer os Estados, sobretudo o mais dilacerado deles, o Rio, poderá ser a emissão de títulos de dívida, que seriam ofertados para o mercado estrangeiro.
É o que o governo federal estuda apresentar como solução para governadores em apuros com a crise econômica, disse nesta quinta-feira (17) o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), em Nova York, onde realiza uma série de rodadas com investidores.
“Estou conversando com os investidores e vendo o interesse de adquirir títulos.” Empréstimos poderiam ter como garantia, segundo Meirelles, royalties do petróleo, no caso fluminense. Ativos de empresas estatais são outra possibilidade.
O governo não sacrificará o ajuste fiscal para ajudar os Estados, afirmou o ministro. Para ele, isso resultaria um efeito cascata perigoso. “O que não podemos fazer é uma tentativa de diminuir o problema dos Estados e prejudicar o ajuste fiscal da União, e em consequência a economia, e em consequência a crise, e em consequência os próprios Estados, além da população.”
“Na ânsia de aliviar a doença do paciente, usando uma analogia médica, não podemos prejudicar a saúde dele”, disse Meirelles, num sinal de que o governo federal não cederá à pressão dos Estados que vêm sofrendo com a queda em suas receitas e o aumento das despesas -sobretudo gastos com pessoal.
Ele disse que na semana que vem se encontrará com o presidente Michel Temer para discutir alternativas para a crise dos governos estaduais.
Meirelles veio a Nova York -pela segunda vez no semestre- para vender um discurso de estabilidade.
“Como convencer o investidor de que o Brasil é um porto seguro se, só nas últimas 48 horas, dois ex-governadores [Anthony Garotinho e Sérgio Cabral] de um Estado quebrado -e vitrine do país- foram presos sob suspeita de corrupção, uma manifestação violenta explodiu nas ruas cariocas e um grupo que pedia a volta dos militares no poder invadiu a Câmara?”.
Segundo o ministro, o tema não levantou muito interesse nas reuniões das quais participou. Quando foi o caso, disse ter dado o “bem recebido” recado com “firmeza e serenidade”: “O Brasil passa por um processo de investigações, de julgamentos, conduzido por uma Justiça independente”.
Quanto aos protestos, afirmou que, em Nova York, eles são vistos “como uma questão localizada”.
Meirelles também comentou a perspectiva de uma projeção mais mirrada para o PIB de 2017. A equipe econômica já sinalizara baixá-la de 1,7% para 1%. Essa conta foi fechada antes da vitória de Donald Trump nos EUA, que provocou uma onda global de instabilidade. O novo número já contemplará o “efeito Trump”, disse o ministro.
“O Brasil tem uma crise já longa, comparando com outras crises, inclusive uma que enfrente diretamente [o estouro da bolha imobiliária americana, quando era presidente do Banco Central no governo Lula]. Foi duríssima. O PIB, em termos anualizados, caiu mais de 13% num semestre, mas reagimos forte e rápido.”
O problema, agora, é que o novo governo estaria pagando pelos pecados da gestão de Dilma Rousseff, de acordo com o ministro. “Começamos a enfrentar [a crise] a partir de maio, quase dois anos depois.”
Ele disse que a aprovação do teto dos gastos públicos no Senado (em dois turnos, até dezembro) será essencial para tornar o Brasil atraente para o mercado externo -e essa é a batalha da vez. “Brinco dizendo que um exemplo histórico é Napoleão, que decidiu lutar e todas as frentes ao mesmo tempo e perdeu a guerra.”
Folhapress