A atriz e futura ex-secretária da Cultura, Regina Duarte foi às redes sociais no fim da tarde deste último sábado (06/06) para se manifestar sobre sua rápida passagem à frente da pasta. Há duas semanas, o presidente da República, Jair Bolsonaro e ela, foram as redes sociais anunciar que ela iria “realizar seu sonho” de tocar a Cinemateca em São Paulo e ao mesmo tempo, ficar mais próximo à família. Até hoje, no entanto, seu cargo não foi anunciado e dificilmente será consolidado. “Minha inexperiência em gestão pública foi crucial para que eu descobrisse que o projeto de cultura que sempre sonhei era inviável”, disparou.
Regina Duarte assumiu a secretaria no dia 4 de março. No dia 20 de maio, pouco mais dois meses à frente da pasta, o Jair Bolsonaro anunciou que a atriz deixaria o cargo. Ela deveria assumir a Cinemateca, em São Paulo, órgão responsável pela preservação da produção audiovisual no Brasil e vinculada à Secretaria da Cultura. A nomeação ainda não aconteceu. A missão de Duarte à frente da pasta seria ‘pacificar’ os ânimos entre o governo federal e a indústria da Cultura. Ela não conseguiu e ao contrário: aumentou à um abismo a relação entre os setores.
Na longa publicação no Instagram, Duarte tentou fazer um mea-culpa. Disparou que o governo está mais preocupado com ideologias do que com cultura e ainda ressaltou que sempre houve uma “torcida nas mídias” contra sua gestão à frente da pasta.
“E por falar em Cultura… aceitei assustada o convite para a missão. Aceitei por amor ao meu país, por paixão irrefreável por arte e cultura, por confiança no governo Bolsonaro. Aceitei porque muita gente, muita gente mesmo, quando cruzava comigo, em qualquer lugar, com o olho brilhando de esperança, dizia: ‘Aceita, Regina’”, relembrou.
Então disparou: o governo não está preocupado com cultura. “Minha inexperiência em gestão pública foi crucial para que eu descobrisse, até com certo atraso, que o projeto de cultura com que sempre sonhei era inviável, porque eu estava enredada num universo muito mais preocupado com ideologias do que com cultura”, salientou.
Dois meses de um casamento que terminou em fritura
Jair Bolsonaro sempre gosta de fazer alusão ao matrimônio em suas relações ministeriais. Ele e Regina começaram um “namoro” há algum tempo que evoluiu para um “noivado”. O casamento durou pouco mais de dois meses. A distância foi um dos fatores que acabou contribuindo para o rompimento precoce. Ao menos foi o que Jair Bolsonaro disse num final de abril, na porta do Palácio da Alvorada. Na mesma fala, no entanto, revelou que estava preocupado com as pautas tidas como “de esquerda” que Regina não estava conseguindo barrar.
“Infelizmente, a Regina está em São Paulo. Está trabalhando pela internet ali. E eu quero que ela esteja mais próxima. É uma excelente pessoa, um bom quadro. É também uma secretaria que era ministério. Muita gente de esquerda pregando ideologia de gênero. Essas coisas todas é que a sociedade, a massa da população, não admite. Ela tem dificuldade nesse sentido”, disse Bolsonaro.
Apesar da distância ter contribuído, os bastidores dizem que o que pegou de fato, foram as pautas progressistas que continuavam aparecendo na Secretaria. Duarte em seu desabafo acabou, mesmo que sem querer, reforçando a ideia.
Apesar do seu objetivo em pacificar a cultura, Regina aumentou o abismo que existia entre o setor cultural e o governo. Em entrevista à CNN no começo de maio, a atriz minimizou à ditadura militar e ao mesmo tempo fez um ode aos tempos de chumbo. “Não era bom quando a gente cantava isso?”, disse após cantarolar um jingle em apoio ao governo militar: “Pra Frente Brasil”.
Ao ser confrontada que o regime militar perseguiu, sequestrou e torturou muitas pessoas, Duarte continuou à minimizar o assunto ao dizer que pessoas sempre morreram. “Sempre houve tortura, não quero arrastar um cemitério. Mas a humanidade não para de morrer, se você falar de vida, de um lado tem morte. Por que olhar para trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões, acho que tem uma morbidez neste momento. A Covid está trazendo uma morbidez insuportável, não tá legal!”, afirmou.
O estopim da entrevista foi quando Regina Duarte recusou-se à ouvir sua colega, Maitê Proênca. A também atriz gravou uma mensagem prévia cobrando que a secretária se manifestasse sobre ações assertivas que sua pasta poderia fazer com a classe artística. “A Maitê tem meu telefone. Ela que me ligue”, disse ao jornalista que conduzia a entrevista, Daniel Adjuto. Não pegou legal, virou meme e gerou uma avalanche de críticas do setor.