O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (6) o fim do surto de febre amarela no país. O anúncio ocorre após o último caso da doença ter sido notificado em 16 de junho deste ano, no Espírito Santo -desde então, não houve novos registros, segundo a pasta.
Apesar da medida, o governo lançou um novo alerta para o aumento da cobertura vacinal como forma de evitar novos casos no próximo verão.
Neste último surto, entre dezembro e junho, foram confirmados 777 casos e 261 mortes por febre amarela no país -é o maior número já registrado desde o início da série histórica, em 1980.
A pasta também confirmou que deve ampliar a vacinação em 2018 para crianças de nove meses em todo o país, independente de residirem ou não dentro das áreas de recomendação da vacina.
Segundo a coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunizações), Carla Domingues, o objetivo é ter, pouco a pouco, um maior número de pessoas protegidas contra a doença no país.
Para os adultos, no entanto, a vacinação continuará a ser recomendada apenas para quem mora ou pretende viajar para áreas consideradas de maior risco para a doença. Hoje, municípios de 20 Estados fazem parte dessa lista -ficam de fora desse grupo Estados do Nordeste, que agora entrariam na vacinação infantil.
De acordo com Domingues, apesar da decisão de ofertar a vacina para todas as crianças já ter sido tomada, a pasta ainda deve avaliar, até o fim deste ano, como ocorrerá essa ampliação.
Uma das possibilidades é incluir a imunização para esse público dentro do calendário de vacinação em todo o país, de forma a fazer a oferta da vacina dentro da rotina dos postos de saúde. Outra é realizar campanhas específicas, modelo que seria eficaz para evitar desperdício de doses durante a vacinação em locais com menor demanda.
“Ainda não definimos qual a estratégia, se vamos fazer isso na rotina ou aproveitar a campanha de multivacinação em setembro e fazer uma campanha para essas localidades, uma vez que a vacina só pode ser utilizada após seis horas do frasco ter sido aberto”, informou Domingues.
Além da organização da oferta da vacina para crianças, o Ministério da Saúde irá avaliar uma nova ampliação das áreas de recomendação da vacina. Inicialmente, a ideia é incluir mais municípios de São Paulo e Bahia, onde hoje a vacinação já tem sido ampliada devido à ocorrência de epizootias -morte de macacos com suspeita de febre amarela, o que indica a circulação do vírus.
“Estamos inaugurando uma nova fábrica [de produção de vacinas], e a partir do começo do ano produziremos 10 milhões de doses por mês. Aí poderemos avaliar a possibilidade de cobrir novas áreas”, disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Além dos 777 casos confirmados, o surto de febre amarela registrado neste ano ainda soma 213 casos em investigação, e que esperam por resultados de testes para definição.
Outros 2.270 foram descartados após exames e 304 foram considerados inconclusivos -caso deles em que não foi possível ter evidências da infecção por febre amarela ou que não se encaixavam na definição de caso.
Em geral, a região Sudeste concentrou a maior parte dos registros confirmados, com 764 casos, seguido do Norte, com dez, e Centro-Oeste, com três casos. Já os Estados mais atingidos foram Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Para técnicos do Ministério da Saúde, o alto número de casos neste ano pode ser explicado pela sazonalidade o surto, que costuma ocorrer a cada seis ou sete anos, somada à entrada em uma área suscetível ao vírus, com baixa cobertura vacinal.
“Febre amarela é uma doença que se comporta de forma cíclica. Já vínhamos observando epizootias de febre amarela em 2007 e 2009, culminando nesse aumento agora em 2017”, afirma o diretor de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, João Paulo Toledo.
Mesma avaliação tem Carla Domingues, do PNI. “Na década de 40, tivemos a febre amarela nessa mesma região de agora. Estávamos praticamente há 60 anos sem o vírus naquela localidade”, explica.
Ainda segundo Toledo, o fim do surto já era esperado nesse período devido ao aumento na cobertura vacinal e ao inverno, quando o clima é mais desfavorável ao mosquito transmissor.
Apesar do fim do surto, o alerta para o aumento da cobertura vacinal ocorre uma vez que o país ainda registra ocorrências de epizootias. Segundo o ministério, o último caso foi registrado há duas semanas em uma área onde já havia recomendação de febre amarela.
Também há baixa cobertura vacinal em algumas regiões. De 1.121 municípios que tiveram a cobertura reforçada neste ano, localizados no Sudeste e Bahia, apenas 205 estão com a cobertura ideal, o equivalente a igual ou maior que 95%. Atualmente, a média de cobertura nestes locais é de 60,3%.
“A situação está sob controle, mas há uma grande preocupação porque a cobertura vacinal é baixa em muitos Estados. Estimularemos a todos os municípios e aumentar a cobertura vacinal para evitar que um novo surto possa ter os efeitos que nesse ano tiveram”, disse o ministro Ricardo Barros. (Folhapress)