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Goiás se despede de Batista Custódio, o jornalista das grandes metáforas políticas

A morte do jornalista e editorialista Batista Custódio, aos 88 anos, ocorrida nesta sexta-feira (24), amplamente noticiada no Diário de Goiás, encerra a trajetória do autor das maiores metáforas políticas da história do jornalismo goiano. Independente dos que gostaram e dos que desaprovaram, as frases ditas ou escritas por ele tinham endereço certo e geralmente eram os ocupantes do poder.

Recheadas de retórica, de expressões às vezes até chulas, comparavam desmandos ou caráter, apontando o dedo ou estapeando com palavras a cara de autoridades por questões que os bastidores sabiam, mas a população desconhecia.

“As vestais da rua de cima eu as conheço todas como as prostitutas da rua de baixo”, foi uma dessas frases, ainda muito lembrada pelos que liam seus artigos, como o jornalista e articulista do Diário de Goiás, Vassil Oliveira.

Algo importante a dizer

Recentemente, o DG recorreu a um destes artigos para relembrar o massacre do jornalista Haroldo Gurgel, em agosto de 1953. O título era outro exemplo dessa retórica de quem tinha algo importante a dizer sobre fatos desconhecidos pela maioria: “Retratos das histórias reais sem as máscaras da hipocrisia”.

No meio do artigo, frases como “há mais vozes caladas na consciência de autoridades que no silêncio dos mudos, e existem menos venenos em cobras que em veias consanguíneas”. Mais adiante, em redação permeada de citações religiosas quase delirantes e temas gerais – indo de Getúlio Vargas ao general Castelo Branco, até o assassinato do jornalista Valério Luiz -, ele aborda o crime de 1953 e o período de “jaguncismo” na política goiana.

Contra o denuncismo

Em 2015, quando Dilma Roussef era presidente da República, Marconi Perillo governador de Goiás e Paulo Garcia prefeito de Goiânia, não se sabe ao certo endereçado a quem, ele escreveu: “Tenho nos ombros pesadas culpas dos outros. Não sou sensor de ninguém. São corruptos apontando ações corruptas de outros corruptos”.  

A frase foi dita durante uma homenagem feita ao jornalista pela Assembleia Legislativa e ele estava falando de “denuncismo” por parte dos meios de comunicação.

Agruras da ditadura

Naquele dia, 9 de março de 2015, quando fazia 56 anos a fundação dos seus dois jornais, o Cinco de Março e o Diário da Manhã, Batista relembrou as agruras da ditadura militar para o jornalismo. “Chão pisado de adversidades”, comparou.

À frente dos seus jornais, com seu jeito às vezes explosivo, às vezes paternal, comandou redações que serviram de celeiro para a formação de centenas de jornalistas goianos.

Espaço para iniciar carreira

Isto, especialmente na época em que o curso só existia na Universidade Federal de Goiás, na época em que ela não tinha laboratório para a área e o estágio em Jornalismo sequer era regulamentado. Mas não só de lá.

Pelas décadas seguintes foi se tornando o primeiro degrau para muitos estudantes ou profissionais novatos formados em outras instituições. Muita gente que cresceu na profissão começou ali, como essa repórter, como a jornalista global Lília Telles, entre outros.

Nesse ponto, novamente leva-se em conta tanto os que tiveram boas lembranças, quanto muitos que sofreram com problemas administrativo-financeiros, ou pela condução editorial das matérias, muitas vezes, “pouco eclética”.

Muitos desses jornalistas dedicaram várias citações à memória das experiências junto a Batista Custódio e seu principal jornal, o DM, durante essa sexta-feira em um grupo de whatsApp que soma 801 participantes.

Lília Telles foi uma dessas pessoas que enviou uma mensagem onde reverbera o sentimento de muitos colegas da profissão: “O Diário da Manhã foi meu primeiro contato com o Jornalismo. Foi lá que eu comecei minha trajetória profissional. Meu agradecimento eterno a Batista Custódio e a todos os jornalistas que me ensinaram o beabá”.

Ligação umbilical com a redação

Entre as lembranças de hoje, a morte do filho Fábio Nasser em janeiro de 1999 e, pouco tempo depois, da ex-mulher, Consuelo Nasser, personalidade feminina marcante da época, fundadora do Centro de Valorização da Mulher (Cevam).

O impacto da perda do filho recaiu sobre o jornalista, mas não derrubou Batista Custódio, que permaneceu umbilicalmente ligado à redação.  

Para finalizar, uma última frase do próprio Batista Custódio condensa o sentimento na sua partida: “A minha história não cabe na minha biografia”.

Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.

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