A futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reconheceu que existe um “desconforto” de exportadores brasileiros em relação à promessa feita pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
“Eu sei do desconforto, eu tenho ouvido, eu tenho recebido ligações. Eu quero me sentar numa mesa e discutir, para eu entender a posição que o governo vai tomar e como é que a gente vai poder agir nessa situação. Realmente, eu sei, foi cancelada uma missão ao Egito, que o Brasil teria. Agora é preciso assentar a poeira, entender com muita calma”, disse.
Esta semana, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, teve uma visita cancelada ao Egito de última hora. Como a medida não é de praxe no meio diplomático, integrantes do Itamaraty viram no gesto uma retaliação do país árabe às declarações de Bolsonaro.
O presidente eleito prometeu, ainda durante a campanha, fazer a transferência da embaixada. A mudança foi repetida logo depois de sua eleição, no último dia 28.
Esta semana, após a repercussão negativa, ele disse que isso não estava definido, e minimizou o cancelamento da comitiva, dizendo que teria sido por motivo de agenda.
Cristina disse ter conversado com pessoas do Brasil que estão preocupadas com o impacto que a transferência da embaixada pode ter nas relações comerciais do país com o mundo árabe.
“As indústrias, o setor de carnes principalmente, que é um dos setores que têm mais problemas com esse mercado árabe”, disse, explicando por quem foi contatada.
Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, havia dito à Folha anteriormente que a mudança de embaixada poderia riscar as relações comerciais entre o Brasil e os países árabes. Juntos, os países árabes são o segundo maior comprador de proteína animal brasileira. Em 2017, as exportações somaram US$13,5 bilhões e o superávit para o Brasil foi de US$ 7,17 bilhões.
Cristina defendeu ainda, um alinhamento com o futuro ministro das Relações Exteriores, que ainda não foi anunciado por Bolsonaro.
“[É preciso] saber quem é o novo ministro das Relações Exteriores. É importante esse ministério andar junto com o Ministério da Agricultura, principalmente por estes problemas externos que a gente pode ter, dependendo da condução da política externa que o governo vai ter”, afirmou.
Indicada na quarta (7), a futura ministra deve conversar com Bolsonaro nesta quinta sobre a gestão frente à pasta da Agricultura. (Folhapress)
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