O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro afirmou à Polícia Federal que o presidente Michel Temer fez “orientação/pedido” para que fossem feitas duas “operações” de crédito junto ao Fundo de Investimentos do FGTS, para duas empresas privadas.
As operações, segundo Funaro, geraram “comissões expressivas, no montante aproximado de R$ 20 milhões”.
O dinheiro, segundo Funaro, foi destinado principalmente à “campanha para Presidência da República no ano de 2014” e à campanha do ex-deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012.
As empresas beneficiadas foram a BR Vias, da família Constantino, dona da aérea Gol, e a LLX, que hoje se chama Prumo Logística e tem como sócio Eike Batista.
As declarações de Funaro, prestadas no último dia 14, foram anexadas aos autos da Operação Patmos, que investiga Temer, e tornadas públicas nesta terça-feira (20).
Funaro também afirmou ter ouvido do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que havia “conhecimento do presidente Michel Temer a respeito da propina sobre o contrato [para construção] das plataformas entre a Petrobras Internacional e o grupo Odebrecht”.
MOREIRA FRANCO
Funaro, que está preso no complexo penitenciário da Papuda (Brasília) e estaria negociando delação, afirmou que pagou “comissão” ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência e um dos principais aliados do presidente Michel Temer, Moreira Franco.
O dinheiro, segundo o corretor, estava relacionado à liberação de recursos do FI-FGTS em 2009, para a empresa Cibe. Nessa época, Moreira Franco ocupava a Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, gestora do Fundo de Investimento.
A empresa Cibe, segundo Funaro, era uma sociedade entre o grupo Equipav e Bertin, as quais “solicitaram ajuda” do corretor, pois “a solicitação da linha de crédito não estava caminhando”.
“O declarante [Funaro] pagou comissão desta operação a Eduardo Cunha e a Moreira Franco; os pagamentos foram feitos em espécie, não se recordando dos valores neste momento, mas que posteriormente irá apresentá-los”, disse Funaro, segundo a transcrição do depoimento.
GEDDEL VIEIRA LIMA
O corretor afirmou também ter pago, em espécie, um total de R$ 20 milhões ao ex-ministro Geddel Vieira Lima por “operações” na Caixa. Os recursos, segundo o corretor, eram “comissões” por liberações de crédito a empresas do grupo J&F.
Segundo Funaro, foi ele quem apresentou Geddel ao empresário Joesley Batista. O peemedebista era então vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa, e o grupo J&F, holding que controla a JBS, segundo Funaro, tinha interesse em obter linhas de créditos junto a esta instituição.
A primeira operação efetuada para a J&F foi a liberação de operação de crédito para a conta empresarial. “Após essa fez mais empréstimos e outras operações de crédito para a própria J&F e outras empresas do grupo, como Vigor, Eldorado, Flora e Seara.”
O corretor de valores afirmou ainda que trabalhou na arrecadação de fundos das campanhas do PMDB em 2010, 2012 e 2014 e que estima que tenha arrecadado cerca de R$ 100 milhões para o PMDB e partidos coligados.
Sobre Michel Temer, o corretor disse ainda que não tinha “relacionamento próximo” com o presidente, mas que com ele esteve em três oportunidades: “na base aérea de São Paulo, juntamente com o deputado Eduardo Cunha, em um comício para as eleições municipais em Uberaba (MG), no ano de 2012, também com Cunha e [o executivo da JBS] Ricardo Saud, e em uma reunião de apoio à candidatura de Gabriel Chalita à prefeitura”.
OUTRO LADO
O ministro Moreira Franco negou a acusação: “Que país é esse, em que um sujeito [Funaro] com extensa folha corrida tem crédito para mentir? Não conheço essa figura, nunca o vi. Ele terá que provar o que está dizendo”, declarou.
A reportagem também procurou as defesas de Temer e Geddel Vieira Lima, que ainda não se manifestaram sobre os relatos de Funaro.