Diante da explosão de 794 focos de incêndios florestais comprometendo o ar, a vida nas áreas verdes e a saúde da população, a Delegacia Estadual de Defesa do Meio Ambiente de Goiás (Dema) está investigando ocorrências a partir de imagens de câmeras de monitoramento, dados do Corpo de Bombeiros e do Batalhão Florestal. O delegado titular da Dema, Luziano Severino de Carvalho, fez um apelo nesta segunda-feira (26) para ser evitado qualquer tipo de foco, seja ele a queima de simples folhas em quintal ou calçada.
Ele apresentou imagens de Rio Verde e Goiânia de focos de incêndios propositais em vegetação. “Temos denúncias e os autores já foram identificados”, relatou. Também no interior, um homem foi preso em flagrante em Bom Jardim no sábado (24) e teria confessado ter recebido dinheiro para causar um incêndio criminoso que destruiu cerca de 700 hectares.
Outra apuração envolve um motociclista incendiário que desde junho vem espalhando chamas em vegetações de Goiânia.
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“O momento é de proibição total a fogo”, afirmou ao Diário de Goiás. O alerta do delegado vem no momento em que o número de incêndios florestais em áreas particulares e públicas (exceto protegidas como parques), em agosto, já é quase o mesmo que o correspondente a todo o ano de 2023 no sistema de controle do Corpo de Bombeiros de Goiás.
No ano passado inteiro, foram registrados 1.862 focos de incêndios florestais em Goiás. Até as 15h desta segunda-feira, eles já somavam 1.710, faltando quatro meses para terminar o ano e sem previsão de chuva.
Durante 26 dias de agosto, foram registrados 794 focos de incêndio combatidos pelos bombeiros em Goiás, contra 549 nos trinta dias do mesmo mês no ano anterior. Ou seja, esse mês já foram registrados pela corporação 245 focos a mais que em todo agosto de 2023.
Além do enorme número de focos, Bombeiros, Dema e Batalhão Florestal trabalham contra outro inimigo poderoso: a omissão da sociedade. “As pessoas quase não denunciam, nem registram ocorrência. Sem isso, a investigação e o combate a esse crime ficam prejudicados”, enfatizou o delegado, apelando para uma mudança de mentalidade. Ele disse que solicitou acesso ao registro das ocorrências dos bombeiros para fortalecer a investigação.
Luziano não acredita em ação criminosa orquestrada para a explosão nos focos de incêndio, mas disse que “a Polícia tem que agir, mesmo que não pareça fogo criminoso”. O delegado acrescenta que a displicência de quem que coloca fogo em vegetação para baixar o mato, por exemplo, ignora as sensíveis mudanças climáticas em andamento no mundo. “Se o fogo atinge uma palhada de milho, por exemplo, ele pode saltar até dez ou mais quilômetros com o vento, especialmente redemoinhos”, explicou.
No domingo (25) o delegado estava em Jataí, onde possui uma chácara, e foi avisado que Goiânia estava encoberta pela fumaça. “Ao retornar pela rodovia me deparei com falta de visibilidade até quase Goiânia. Tudo encoberto de fumaça”, citou.
Ele considera que é preciso ser rigoroso na aplicação da lei nos casos de crimes dolosos através de queimadas propositais que causam poluição e grave dano à biodiversidade, com mortandade de animais, por exemplo. Para esses casos, defende que os delegados que presidem os inquéritos apliquem mais o artigo 250 do Código Penal do que a Lei de Crimes Ambientais.
Ele explica que o artigo pune quem causa incêndio expondo a vida a perigo, com pena de até 6 anos de prisão. A pena é agravada se houver danos, como mortandade de animais, destruição de mata ou floresta. Já a Lei de Crimes Ambientais tem multas altas, mas uma pena menor, que pode chegar até 4 anos de prisão, somente.
“Não pode só multar mais. Tem que embargar o que está fazendo [de errado]”, defende. Segundo ele, tem sido notada uma mudança de mentalidade entre os produtores rurais. “O agricultor não põe mais fogo em palhada por saber que está pondo fogo em matéria orgânica, adubo”, aponta. Por outro lado, alerta que empresas com potencial de combustão vegetal, como usinas de cana-de-açúcar, ainda não estão fazendo o essencial na prevenção.
“Uma usina é um foco, tem grande material combustível, elas têm que prevenir. Em são Paulo, por exemplo, foi o [fogo nas áreas delas] que causou o volume potencial de fumaça“, citou, falando sobre os focos do fim de semana. Em relação a isso, a Dema tem no momento ao menos um inquérito aberto em Acreúna. Em 11 agosto, mais de 200 hectares de um canavial pertencente a uma usina queimaram na cidade.