“Apesar de você amanhã há de ser outro dia
Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria
Você vai se amargar, vendo o dia raiar sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir, que esse dia há de vir antes do que você pensa…”
Cantava – timidamente – Poliana revelando em cada timbre discreto de sua voz, o engajamento e esperança de uma jovem que pintou o rosto de verde e amarelo, fingiu deixar a ingenuidade em casa para gritar “Fora Marconi”, na VI edição da manifestação contra o governador de Goiás, realizada na manhã deste sábado na Praça Cívica.Nos olhos, a puerilidade encharcada de esperança e revolução. Esta administração já não cabe mais no jogo do contente desta menina goiana. O discurso do tucano não convenceu polianas.
Larissa Poliana Sisterolli Alves, 21, acordou às 6h50, antes de tocar o despertador, sentindo “aquele frio na barriga”, como a própria descreveu. “Pensei que era o dia de mudar o mundo, começando por Goiás”, disse. Filha de Luciana Elvira Alves e André Pacheco Pereira, a doce estudante universitária significou a manifestação de hoje.
Marconi Perillo pode ter convencido algumas dezenas de deputados e senadores no Congresso, mas Poliana não. Em Brasília, alguns ousaram gritar à conclamação do tucano à presidência da República, uma claque fiel que acompanhou Perillo ovacionou seu discurso. Lá, por que aqui, na Praça Cívica, quatro dias após seu show na CPMI, os gritos foram outros. O que se podia ouvir em qualquer andar do Palácio Pedro Ludovico Teixeira era “Marconi, bicheiro, devolve o meu dinheiro”, “Marconi além de ator é também contraventor”, “Fora Marconi”…
A preocupação que levou Poliana às ruas não foi a legalidade, ou não, dos grampos da Polícia Federal, menos ainda o número de vezes que o governador de Goiás ligou para o contraventor Carlinhos Cachoeira. A menina discutia, com propriedade, a surra que levou durante uma manifestação de protesto, o excesso de propaganda na televisão e falta de benefícios práticos em sua vida, a inexistência de um debate político com participação popular, que caracteriza uma administração democrática. “Justiça é Justiça. Política à parte. São poderes diferentes e os queremos também independentes”, ressaltou a estudante.
Assim seguiram. Ritmados pela melodia de Chico Buarque, combinada com a letra majestosa arguida pela juventude, eles marcharam pelas Avenidas Araguaia e Goiás, encerrando o movimento na Praça Cívica, onde começaram.