Para celebrar os seus 40 anos de carreira, o ator, dublador, diretor, produtor, e escritor Selton Mello reuniu toda a sua vivência na obra ‘Eu me Lembro’, livro biográfico que reúne 40 entrevistadores e mais de 70 fotos inéditas. O lançamento em Goiânia foi realizado nesta última quarta-feira (31), durante a abertura da 15ª edição da Mostra de Cinema ‘O Amor, a Morte e as Paixões’, que acontece na capital.
Em entrevista coletiva, Selton afirma que o processo de escrita da obra “foi uma boa viagem no tempo”, e que tudo começou durante a Pandemia de COVID-19, iniciada em março de 2020. “Foi uma terapia fazer esse livro porque fui elaborando as respostas, fui pensando, tocando em vários pontos. Tiveram várias coisas que fui descobrindo e fazendo durante a escrita do livro. Então foi uma espécie de sessão de terapia, foi bonito”, relembrou o artista.
Como resultado, a biografia reúne cerca de 40 entrevistas feitas com estrelas da TV, do teatro, cinema e literatura, como Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Fábio Assunção, Jeferson Tenório, entre outros. O livro celebra quatro décadas da carreira do multi-talento, trazendo memórias da família, dos amigos e de sua arte. Alguns, como Pedro Paulo Rangel e Aracy Balabanian, faleceram e fizeram perguntas que estão eternizadas na obra.
Após escrever um balanço comovente de sua vida, Selton afirma estar realizado profissionalmente, mas ambiciona realizar mais produções internacionais. “Tenho orgulho do que eu construí até aqui. Mas eu tenho muita vontade ainda de fazer outras coisas. Acho que eu gostaria de atuar em outras línguas também. Eu fiz pouco, mas eu já tive essa experiência. Mas não é uma coisa fácil de acontecer, então, se acontecesse, eu gostaria”, revelou.
Um lado muito tocante que também fez com que o autor escrevesse o livro, é Selva Mello, de 83 anos, que foi diagnosticada com Alzheimer. O medo de ver suas próprias memórias se apagarem, fez com que o artista as revisitasse com mais fervor. “Alice Wegmann foi quem fez a pergunta que incentivou Selton a falar sobre o assunto. “Ela perguntou sobre uma grande dor na minha vida. E aí foi a primeira vez que eu falei sobre. Até então a gente não falava disso, era quase um tabu e eu não queria expor”, inicia Selton.
Ele mudou de ideia ao entender que estava fazendo um livro sobre memória, e que aquele seria um momento fundamental para falar de sua mãe e homenageá-la. “É a mulher mais importante da minha vida. Então, é um livro que fala de memória, homenageando uma mulher que perdeu a memória”, confidenciou Selton, frisando que a pergunta de Alice foi a mais tocante do livro para ele.
O livro, já considerado um best-seller, tem recebido muitos feedbacks relacionados às vivências de quem convive com alguém que têm Alzheimer. “Recebi uma mensagem agradecendo pelo livro em que o rapaz contava: ‘Meu pai tem Alzheimer e foi meu melhor amigo, a pessoa com quem eu mais tinha conexão e tô vendo ele diariamente perder a memória. Então, é muito bonito você falar da sua mãe e da relação com ela. Esse teu livro me ajudou de uma certa forma a lidar com a dor que é a perda de memória do meu pai’. Portanto, um livro é mais do que um depoimento pessoal. E eu acho que emociona bastante e acaba ajudando”, define Selton.
Questionado sobre um conselho que daria para os jovens goianos imersos no audiovisual, Selton que iniciou sua carreira ainda na infância, incentiva os artistas a compartilharem suas emoções e vivências. “Isso é o artista, ele é uma antena, ele capta as coisas que estão no ar e depois ele expressa essas coisas. Então, a função de um artista é muito bonita, muito sutil, muito nobre. Que tenha mais gente assim porque o mundo precisa”.
“Nós somos porta-vozes das nossas subjetividades e do que a gente tem de mais íntimo e isso ajuda a alargar o pensamento crítico. O artista, o pensador, o escritor, o jornalista são pessoas fundamentais porque ajudam a ampliar o nosso horizonte. Você lê um livro que te emociona por algum motivo que você não entendeu ainda muito bem, mas ele te emocionou, aquilo te expandiu. E uma mente após ser expandida nunca volta ao seu tamanho natural”, completou, parafraseando o físico alemão Albert Einstein.
Selton é padrinho da Mostra de Cinema ‘O Amor, a Morte e as Paixões’. Ele contou durante a entrevista que é um prazer retornar a Goiânia e ressalta que é muito gratificante ver o crescimento da mostra ‘O Amor, a Morte e as Paixões’ ao longo dos anos. “É muito legal ver a cultura do cinema sendo espalhada assim, com filmes pensantes e filmes que fazem você pensar em cinema de qualidade”, afirmou Mello.
De acordo com Lisandro Nogueira, curador da mostra, essa não é a primeira vez que o ator marca presença na mostra. “Ele esteve conosco pela primeira vez em 2011, depois em 2012 e agora, teremos a honra de recebê-lo para o lançamento de seu livro. Selton Mello é apaixonado pelo cinema e tê-lo na edição de 15 anos da mostra, também para um bate-papo, é uma enorme felicidade”, comemora.
A mostra de cinema foi criada em 2001 pelo professor de Cinema da Universidade Federal de Goiás Lisandro Nogueira, a primeira edição contou apenas com 17 filmes. Desde o início, a mostra já reuniu mais de 300 mil pessoas, em inúmeras sessões e um público cativo à sétima arte.