LEONARDO CRUZ – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Logo na abertura de “Papa Francisco: Conquistando Corações”, vemos imagens aéreas de Buenos Aires, embaladas por um tango instrumental. A sequência sintetiza bem essa cinebiografia sobre Jorge Mario Bergoglio: um sobrevoo superficial, pontuado por clichês.
Dirigido por Beca Docampo Feijóo, cineasta espanhol pouco conhecido no Brasil, “Papa Francisco” apresenta a trajetória de Bergoglio antes do pontificado, desde a juventude nos anos 1950 até a eleição no Vaticano que o transformou em papa, em 2013.
A história do religioso é contada pelo olhar de Ana (Silvia Abascal), jornalista que prepara um livro sobre Francisco. A personagem é inspirada em Elisabetta Piqué, correspondente no Vaticano do jornal argentino “La Nación” e que escreveu “Papa Francisco – Vida e Revolução” (ed. Leya, 288 págs., R$ 44,90), obra que serviu de base ao filme.
Ana é uma repórter espanhola agnóstica, em crise conjugal, que passa a cobrir a Santa Sé às vésperas do conclave de 2005, o que fez de Joseph Ratzinger o papa Bento 16.
Fincada no presente, a narrativa dá saltos no passado com os depoimentos que Ana colhe para seu livro. É a partir das conversas que vemos Bergoglio ainda moço (vivido por Lucas Armas), arrancando suspiros castos de duas garotas, jogando sinuca e descobrindo a fé.
E depois adulto (na pele de Darío Grandinetti), atuando para salvar perseguidos na ditadura argentina, defendendo os pobres e atacando a corrupção como arcebispo de Buenos Aires e participando dos conclaves de 2005 e 2013. A interpretação de Grandinetti é irregular, flertando com o pastiche involuntário.
A maioria das cenas do longa parece escrita para reforçar a imagem pública de Bergoglio: um homem muito humilde, que não aceita ser chamado de eminência e lava a própria roupa no banheiro, e também bem-humorado, de tiradas irônicas. E quem se opõe ao religioso é sempre retratado de forma caricata.
Uma parte considerável da trama se dedica ainda ao drama pessoal de Ana e à forma como Bergoglio, sempre carinhoso e preocupado com ela, se torna uma espécie de conselheiro espiritual da cética jornalista.
Com tantas entradas, “Papa Francisco” peca pela falta de densidade. Um papel mais secundário a Ana permitiria um mergulho profundo, por exemplo, na vida e nos dilemas de Bergoglio antes da batina, aspecto pouco conhecido do religioso e que se resume a alguns minutos no começo do filme.
A julgar pela sessão para convidados acompanhada pela Folha, tal superficialidade não deve ser um problema para o público: numa plateia majoritariamente religiosa, com freiras na sala, o longa foi muito aplaudido ao final.
(Francisco – El Padre Jorge)
(Folhapress)