A FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo suspendeu um estudante de 19 anos depois de uma mensagem racista atribuída ao rapaz ter vazado de um grupo privado de Whatsapp.
Nela, o aluno do quarto semestre de administração de empresas encaminhou uma foto de outro estudante legendada com o seguinte comentário: “Achei um escravo no fumódromo! Alguém avisa o dono!”.
Em nota, a fundação informou ter aplicado as sanções previstas em seu Código de Ética e Disciplina assim que tomou conhecimento da mensagem. O ofensor está proibido de frequentar a faculdade por três meses, “sem ressalva da adoção de medidas complementares, a partir da apuração dos fatos pelas autoridades competentes”.
A vítima do comentário racista, João Gilberto Lima, 25, aluno do segundo semestre de administração pública, soube da mensagem na última terça-feira (6), após ter sido chamado pela coordenação do seu curso. Os funcionários haviam recebido a mensagem por meio de uma denúncia anônima.
Estudante da FGV desde 2012 (ele também foi aluno de administração de empresas), ele diz não conhecer o ofensor e que se surpreendeu com a notícia. O nome do aluno suspenso não foi oficialmente divulgado pela FGV nem pela polícia.
“Quando entrei na FGV éramos três ou quatro negros. Só recentemente que foi aberto mais espaço para pessoas negras e vindas de escolas públicas, mas nunca senti um clima hostil. Não digo que não existam pessoas mais elitistas e preconceituosas, mas tenho recebido bastante apoio”, afirmou Lima.
Ele registrou um boletim de ocorrência por injúria racial no 4º DP, na Consolação, e se diz tranquilo. “Meu foco é continuar com os processos civil e criminal, acompanhar a questão administrativa dentro da faculdade.”
Entidades estudantis da FGV manifestaram solidariedade nas redes sociais.
O Diretório Acadêmico Getulio Vargas informou que acompanha a situação de perto e que, a depender do julgamento da Comissão de Conduta e Ética da faculdade, será formalizada uma carta de denúncia à Congregação -órgão responsável por deliberar a respeito da expulsão.
O Coletivo Negro 20 de Novembro publicou uma manifestação repudiando o ocorrido. “Essa nota, além de uma pequena demonstração de que tais atos são inaceitáveis em uma sociedade democrática, foi escrita para dizer que iremos continuar de pé. Vamos continuar no fumódromo, no Diretório Acadêmico e seja lá onde quisermos estar. Soltos, livres e, se alguém perguntar, sem donos.”
O Cursinho FGV, que oferece preparação gratuita para o vestibular da instituição e no qual o ofensor teria sido monitor de inglês em 2017, repudiou o ocorrido. “Uma vez que o referido aluno não faz parte de nosso corpo docente desde outubro de 2017, gostaríamos de declarar aos atuais e antigos alunos do Cursinho FGV que a Fundação é um espaço nosso, e que vamos continuar o ocupando mesmo que isso gere incômodo e desconforto em um ambiente no qual os privilégios ainda são evidentes, mas que têm caído a cada dia.”
A reportagem ainda não conseguiu contato com o rapaz que, segundo alguns alunos, seria o autor da mensagem racista. A FGV não forneceu nenhum contato de eventual defensor e a página dele em rede social foi bloqueada.
Este não é o primeiro caso de racismo na instituição.
Em março do ano passado, uma caloura de 17 anos foi hostilizada dentro do campus durante um campeonato esportivo interno. Da torcida, uma pessoa gritou para a garota: “Negrinha, aqui, não!”.
Ela fazia parte do programa de bolsas de estudos da faculdade, que atende pessoas de baixa renda, numa tentativa de ampliar a diversidade na escola, diminuindo sua elitização -as mensalidades da FGV são superiores a R$ 3.500. (Folhapress)