A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexibilidade dos Estados de Goiás (Ahpaceg) está preocupada com as consequências da falta que os medicamentos para a Covid-19 podem trazer à rede privada. O alerta foi feito nesta terça-feira (23/03).

Eles reforçam que são medicamentos “indispensáveis e essenciais” principalmente para o tratamento de quem está em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) e que dependem de sedação e intubação.

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“Há algumas semanas, os hospitais já convivem com a escassez de produtos, como anestésicos, relaxantes musculares e anticoagulantes, mas vinham conseguindo suprir a falta em algumas unidades por meio do empréstimo de doses entre elas ou a substituição dos medicamentos”, destaca a Ahpaceg.

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Os medicamentos que mais correm risco de falta , de acordo com a entidade são: Rocurônio, Midazolam, Cisatracúrio, Tracrium, Heparina, Atracúrio, Propofol, Fentanil.

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Alexandrino admite pedidos de empréstimo

O cenário de escassez de insumos já foi revelado por trabalhadores da rede privada ao Diário de Goiás. Nesta terça-feira (23), o secretário de Saúde, Ismael Alexandrino revelou que algumas unidades fizeram a solicitação nesta semana.

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“Ontem (segunda-feira, 22) recebemos um pedido oficial de parte dos hospitais particulares para empréstimo de alguns medicamentos”, contou.

Na rede pública estadual, relata Alexandrino, o estoque ainda está sob controle. Porém, já há sinais de que a demanda vai sobrepujar a oferta. “Nos hospitais estaduais não temos nenhuma falta, mas sentimos a dificuldade de aquisição. A gente pede determinado quantitativo, às vezes vem metade, se promete para entregar no dia seguinte e entrega-se dois dias depois”, revela.

Já nos municípios, o cenário também é de alerta, conforme o secretário. “Temos notícia que, no interior do estado, alguns municípios estão com dificuldade de aquisição propriamente dita”.

A alta de internações aumentou a procura por medicamentos e também a demanda por oxigênio. Medicamentos e demais insumos já começam a faltar em vários estados brasileiros. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) terá uma reunião para tentar evitar a escassez dos remédios necessários para o ‘kit intubação’.

Falta de medicamentos pode levar saúde pública ao colapso

Não bastasse a ocupação alta dos leitos de UTI e a falta dos medicamentos, a reportagem do Diário de Goiás já alertava que os hospitais lidavam também com o preço alto dos insumos. Gestores e profissionais da área de saúde relatam que o mercado não consegue atender a demanda dos hospitais e o preço dos insumos foi levado às alturas.

Para se ter uma ideia, os sedativo rocurônio, cuja ampola custava R$ 16 no início do ano, já é vendido a R$ 4, 70, um aumento de 2.900%. Nos outros medicamentos sedativos, segundo a farmacêutica do Hospital Santa Maria, em Goiânia, Renata Evangelista, a média de aumento foi de 100%. Anestésicos subiram cerca de 300%. “Hoje estamos vendo um aumento grande nos sedativos. Por enquanto, não vimos grande diferença nos anti-microbianos. Os antiagregantes plaquetários sofreram um pequeno aumento nesta semana também”, disse ao Diário de Goiás.

O médico Karóly Hunkár ressalta que a carestia também traz problemas à saúde financeira das unidades hospitalares. “Não estamos deixando de comprar, mas estamos começando a pagar para trabalhar”, frisa.

Segundo Evangelista, também há escassez no mercado. “De uma lista e oito sedativos que eu tinha para comprar nesta semana, consegui comprar só três”, relata. A farmacêutica também faz parte de um grupo de compradores de todo o Brasil e diz que o problema é de abrangência nacional. “Nosso grupo tenta se ajudar, mas a falta é geral, embora tenhamos fornecedores e vários estados”.

A corrida pelos escassos sedativos, revela a farmacêutica, é cada vez maior. “Quando um distribuidor me avisa que chegaram ampolas, tem que ter um jogo de cintura grande. Quando você vai faturar, já acabaram”.

A alta se justifica, de acordo com médicos, pela alta expressiva da demanda, somada à limitação de produção das indústrias. Evangelista cita que a capacidade hospitalar também é superior à primeira onda, o que amplia a necessidade de medicamentos e insumos.

Até o momento, o Hospital Santa Maria tem estoque que consegue suportar a demanda das próximas semanas, mas já vê com preocupação o futuro. “Se o cenário não mudar, podemos chegar a um colapso”.

Reflexo na ponta

A falta de sedativos adequados pode obrigar os médicos a “improvisar”, segundo Hunkár. “Podemos ter que usar outros tipos de sedativos”, revela. Destarte, diz o médico, a pronação, melhor terapia para tratamento a covid-19, se torna inviável. “Essas medicações que estão faltando são essenciais para fazer pronação. Sem ele colocamos o paciente em mais risco, pois ele não se entrega ao respirador, a gente não consegue fazê-lo saturar melhor. O pulmão dele pode estourar”.

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