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Categorias: Brasil
| Em 9 anos atrás

Falta d’água pode contribuir para mais casos de chikungunya, diz professor

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As febres chikungunya e zika vírus trazem diversas preocupações para o país. Uma delas pode estar relacionada à crise no abastecimento de água em diversos estados brasileiros, que pode facilitar a proliferação do mosquito Aedes aegpyti, transmissor das duas doenças, embora não haja ainda uma comprovação científica sobre isso, diz Rivaldo Venâncio da Cunha, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e pesquisador da fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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Ao participar do 32º Congresso Brasileiro de Reumatologia, Cunha disse que a proliferação do mosquito e o consequente aumento dos casos preocupam, em primeiro lugar, por que são doenças relativamente novas no país. “Portanto, a rede de saúde e os profissionais de saúde ainda não estão habituados a identificar esses casos. E preocupa também porque a inexperiência clínica para lidar com esses casos tem dificultado o diagnóstico precoce. “E uma das razões, especialmente em relação ao chikungunya, que podem contribuir para uma evolução desfavorável ou crônica é justamente o diagnóstico tardio”, alertou o pesquisador.

Segundo Cunha, outro fator que preocupa é que as doenças são transmitidas pelo mesmo mosquito, que também transmite a dengue, e existe em milhares de cidades no país. “Conhecemos as condições ambientais nas quais o mosquito prolifera. E a associação com as dificuldades no abastecimento de água tem contribuído, aparentemente, para a proliferação, haja vista o que tem acontecido na Região Sudeste, como um todo, em relação à dengue.”

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Rivaldo Cunha diz que é difícil saber quantos casos de chikungunya ou de zika existem no país, porque apenas uma parcela é de fato notificada e confirmada. “O chikungunya, em algo como seis meses [de infestação] no Caribe, atingiu mais de 40 países e territórios e cerca de 1,7 milhão de casos. Alguns países do Caribe, como Martinica, já notificaram 100 mil casos em uma população de cerca de 400 mil habitantes, ou seja, um quarto do país está acometido pela doença. Se olharmos o que está acontecendo ao nosso redor, a probabilidade de que venha a ocorrer também no Brasil uma explosão [de chikungunya], como já acontece com a dengue, é razoável.”

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Segundo Cunha, existe inclusive a possibilidade de que já estar em curso no país uma explosão do zika vírus, sem que se saiba disso. Ele explicou que isso pode ocorrer porque a zika pode ser confundida com dengue. “Pode ser que nesse 1,5 milhão de casos de dengue notificados este ano no Brasil, haja algumas dezenas ou centenas de milhares de casos que não são dengue, mas zika”, disse o professor, que estima os casos de zika entre 150 mil e 200 mil. “São aqueles casos que praticamente não tiveram febre e começaram com quadro de vermelhidão e coceira”, explicou ele, para diferenciar da dengue, cujo sintoma, em geral, é relacionado a febre alta.

Embora transmitidas pelo mesmo mosquito, a dengue e a zika vírus são provocadas por vírus diferentes. O nível de gravidade também é diferente. “A dengue, em geral, é mais grave que a zika porque a provoca a morte em maior  frequência. A ação do vírus no organismo é diferente”. Só pelo sintoma não seria possível diferenciar uma doença da outra, apenas pelo diagnóstico, destacou Cunha. O problema é que o diagnóstico da febre zika não está disponível em toda a rede pública de saúde, podendo demorar até três ou quatro meses para o caso ser identificado. “Às vezes mais, até seis meses, aguardando o resultado da sorologia para chikungunya ou zika.”

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Segundo o pesquisador, no entanto, isso não decorre de falha do governo, mas do fato de se tratar de doenças ainda novas no país. “Não [há falha do governo]. Nesse caso específico, não, porque é uma doença nova no Brasil e no mundo. Não há, por exemplo, kit para diagnóstico da zika em qualquer lugar do mundo vendendo no mercado. Era uma doença que ocorria em pequena escala, em pequenas comunidades rurais ou ilhas do Pacífico e que, de repente, explodiu”. Até o final deste ano, no entanto, a Fiocruz deve lançar um kit para chikungunya no mercado. “No caso específico do chikungunya, a Fundação Oswaldo Cruz, que é uma fundação do Ministério da Saúde, está fazendo esse kit que até o final do ano deverá estar no mercado. E vai começar a ter equipe trabalhando no de zika também”, acrescentou Cunha, explicando que esses kits deverá ser distribuído para todo o Sistema Único de Saúde (SUS).

O objetivo do kit é ajudar a acelerar o diagnóstico precoce das doenças, que podem trazer complicações para a vida do paciente, caso sejam descobertas tardiamente. “Se for chikungunya, e a pessoa estiver na fase aguda, precisa fazer o repouso. Se não há diagnóstico, nem sempre se consegue convencer o empregador do doente a liberá-lo das atividades”. Outro problema é que os sintomas do chikungunya podem ser confundidos até mesmo com os da artrite reumatoide. “Em quase todas as doenças autoimunes [como a artrite reumatoide] e infecciosas, quanto mais precoce for o diagnóstico, em tese, melhor o prognóstico e o desenlace para o doente e para o profissional que está cuidando dele. Não é diferente para o chikungunya e para a artrite reumatoide, sobretudo quando consideramos que existe abordagem terapêutica que pode ser comum a ambas. Posso estar usando uma medicação que alivia a dor da artrite reumatoide, e o doente estar com chikungunya. Ele mereceria, portanto, um complemento àquele tratamento”, afirmou. Procurado pela Agência Brasil na sexta-feira (9), o Ministério da Saúde não informou, até o momento, quantos casos de zika vírus ou de chikungunya foram notificados no país até hoje, nem quantos desses casos são autóctones e se há alguma preocupação especial com essas doenças.

No entanto, o último boletim epidemiológico divulgado pelo ministério e disponível em seu portal na internet, informa que, somente neste ano, foram registrados 1.416.179 casos prováveis de dengue no país – casos notificados, exceto descartados, até o dia 29 de agosto. Mais de 64% foram notificados no Sudeste, que somou 910.409 casos.

Quanto à febre de chikungunya, foram notificados, até a 34ª semana epidemiológica (até 29 de agosto), 12.170 casos autóctones suspeitos, dos quais 3.948 confirmados (168 por critério laboratorial e o restante, por critério clínico-epidemiológico] e 7.614 continuavam sendo investigados. O número de casos de zika não foi informado, mas, em maio deste ano, o ministério confirmou a circulação do zika vírus no país. “O Instituto Evandro Chagas atestou positivo para o exame de 16 pessoas que apresentaram resultados preliminares para o vírus. Foram oito amostras da Bahia e oito do Rio Grande do Norte”, informou o órgão.

As doenças

Segundo o Ministério da Saúde, a febre do zika vírus é uma doença viral aguda, transmitida por mosquitos, entre eles o Aedes aegypti, e caracterizada por febre intermitente, dor de cabeça, olhos vermelhos, sem secreção ou coceira, dores em articulações, erupções no corpo com pontos brancos ou vermelhos, dores musculares, dor de cabeça e dor nas costas. Os sinais e sintomas podem durar até sete dias. A maior parte dos casos, porém, não apresenta sinais e sintomas e não há registro de morte associada.

Já o chikungunya é uma doença infecciosa febril, causada pelo vírus Chikungunya, que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Os principais sintomas são febre acima de 38,5 graus, dores intensas nas articulações de pés e mãos [dedos, tornozelos e pulsos]. Pode ocorrer também dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de 30% dos casos não desenvolvem sintomas.

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