Os portões do local de prova se fecham às 13h e põem fim ao sonho de quem esperava conseguir uma vaga em uma universidade com a nota do Enem, mas não chegou a tempo. Algumas pessoas até chegam correndo depois disso, afobadas. Mas, em vez de serem recebidas com flashes e entrevistas, o que ouvem são os gritos de uma multidão: “Fake! Fake! Fake!”
Os “falsos atrasados” do Enem, que em outros anos já pregaram peça na internet e em jornalistas, desta vez não entusiasmaram muitos que esperavam na porta da Uninove, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.
“Tem uns que não convencem”, diz o auditor Nelson de Jesus, 33, que promete se fingir de atrasado no ano que vem. Ele reuniu amigos para rir de quem chega atrasado na prova. “Do lado de uma estação de metrô, de acesso fácil, a pessoa perde a prova? Não dá”, afirma, enquanto bebe uma lata de cerveja.
“Eu vim de Carapicuíba e gastei 40 minutos. Não existe desculpa. Viemos prestigiar mesmo”, diz o amigo dele, Alexandre Gomes, 33.
Depois que os portões foram fechados, o grupo foi rir de Gabriele Oliveira, 18, que chorava na porta da universidade por não poder fazer a prova. Mas foram surpreendidos quando ela disse que, na verdade, chegou ao local às 10h40. Ocorre que na subida para as salas, conta ela, o RG que segurava em uma das mãos caiu no vão de uma escada rolante e ela não conseguiu encontrá-lo mais. “O pessoal pergunta se eu não tenho humor. Eu to passando mal, tô tremendo, como vou ter humor?”, questiona.
“Eu não estava atrasada, mas nem todos se atrasam porque querem. Às vezes o metrô para, o ônibus quebra. Cada um tem seus motivos”.
Gabriele quer estudar pedagogia e apostará agora suas fichas nos vestibulares da USP, PUC e Mackenzie. “Nunca entrei em tanto desespero. Procurei em tudo e não achei. Tentei explicar para a coordenação, mas acho que eles não acreditaram em mim. Bate um desespero tão grande, você se preparou o ano inteiro e não pode fazer a prova.” (Folhapress)