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Categorias: Brasil
| Em 6 anos atrás

Fake news são risco à democracia, dizem especialistas

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A disseminação de notícias falsas, ou fake news, representa um risco à democracia, principalmente no período eleitoral. A avaliação é de especialistas que se reuniram, na terça-feira (11), no Seminário Pós-Verdade, na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). O evento foi realizado pelo IdEa (Instituto de Estudos Avançados) da Unicamp, em parceria com a Folha de S.Paulo.

É a divulgação de notícias falsas que abre espaço para o surgimento de pós-verdades, disse na conferência de abertura Oswaldo Giacoia Jr, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Para ele, o pós-factual não coloca em dúvida a verdade absoluta, mas levanta outras questões. “Se cada cidadão pode escolher o ponto de vista de seu agrado, qual seria o sentido do debate público?”

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A própria definição das fake news é um passo necessário na tentativa de combatê-las, na perspectiva dos participantes das três mesas de debate. Paula Cesarino Costa, ombudsman da Folha de S.Paulo, contou que leitores do jornal chamam de fake news reportagens que contêm imprecisões ou erros. “O que a gente deveria considerar notícias falsas são aquelas que fazem uma narrativa deliberadamente falseada de acontecimentos, com intenção de provocar perdas, como de votos, ou ganhos, como financeiros.”

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Do ponto de vista legal, a definição tampouco é precisa. Mas, segundo a advogada Taís Gasparian, sócia do escritório RBMDF Advogados, os projetos de lei em discussão hoje para criminalizar a disseminação de notícias falsas correm o risco de criar uma espécie de censura. “Você pode corrigir a notícia, mas jamais removê-la, porque a quantidade de notícias falsas ou erradas publicadas também serve como registro da nossa época”, defendeu.

Para a ombudsman da Folha, as iniciativas de combate às fake news, que verificam a autenticidade de notícias disseminadas na internet, precisam ser aprimoradas. “A divulgação da negativa de uma notícia falsa não é, ao mesmo tempo, divulgação dessa notícia?”, questionou.

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Na visão do jornalista Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, esses projetos de checagem são uma reação “instintiva” do jornalismo, que tenta averiguar a veracidade dos fatos. Sem isso, para ele, coloca-se em risco o debate de ideias característico da democracia. “A política é o debate das opiniões, mas, se elas não estiverem lastreadas nos fatos, a política se perde.”

O poder de persuasão dessas notícias falsas, segundo o professor da USP Pablo Ortellado, colunista da Folha, aumenta exatamente por elas se apresentarem como um “simulacro” do jornalismo. “Têm fórmula do jornalismo sem ser jornalismo.”

Usando técnicas e apresentação jornalísticas para provocar reações extremadas, esses textos são justamente os com maior chance de serem lidos. “Quanto mais absurdo, engraçado ou enraivecedor, mais as pessoas comentam e compartilham”, afirmou o jornalista Marcelo Soares, especialista em dados.

Entre os brasileiros, esse compartilhamento acontece especialmente no WhatsApp, que tem 120 milhões de usuários ativos no país. Como as mensagens são criptografadas e trocadas em grupos privados, é muito mais difícil controlar e verificar seu conteúdo, destacou Virgilio Augusto Almeida, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais.

As informações se disseminam rapidamente porque o aplicativo é gratuito e fácil de usar. Mas, para o sociólogo José de Souza Martins, nem todas as fake news decorrem de “intenção malévola”. “As pessoas fazem isso para se divertir. Existe uma cultura de humor popular no Brasil que é bastante agressiva.”

A jornalista Laura Capriglione, do Jornalistas Livres, acredita que, apesar das fake news, as redes sociais ajudaram a democratizar a divulgação de informações. Para ela, é positivo, por exemplo, que moradores das periferias, produzam suas próprias notícias. “O jornalismo nunca esteve em um momento tão sensacional. Hoje, são milhões de pessoas podendo contar suas histórias”, disse. (Folhapress) 

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