SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um grupo de advogados dos EUA e do Reino Unido decidiu entrar na Justiça contra o Facebook, a consultoria Cambridge Analytica e outras duas empresas ligadas ao escândalo do vazamento de dados privados dos usuários da rede social.
A informação foi revelada nesta terça-feira (10) pelos advogados responsáveis pelo processo ao jornal britânico The Guardian e acontece no mesmo dia que Mark Zuckerberg, fundador e presidente do Facebook, vai depor ao Senado americano sobre o caso.
A publicação não traz detalhes da ação coletiva -como, por exemplo, se há um pedido de indenização aos usuários- e não explica se o processo vai correr nos dois países simultaneamente ou em apenas um deles.
Em 17 de março , uma reportagem do jornal americano The New York Times e do britânico The Observer (versão dominical do próprio The Guardian), revelou que a Cambridge Analytica teve acesso aos dados de 50 milhões de usuários do Facebook. A consultoria ficou conhecida por ter ajudado a eleição de Donald Trump e na campanha que levou o Reino Unido a deixar a União Europeia, o “brexit”, ambos em 2016.
Após a revelação do caso, o próprio Facebook atualizou o número de perfis atingidos para 87 milhões em todo o mundo, sendo a maior parte nos Estados Unidos (70,6 milhões) e no Reino Unido (1,1 milhão). A empresa, que viu suas ações caírem na bolsa e enfrenta pressão por mais regulação, pediu desculpa aos usuários pelo caso.
Os advogados querem representar exatamente os 71,7 milhões de usuários afetados destes dois países.
“Os réus efetivamente abusaram do direito humano a privacidade dos usuários do Facebook e, como se isto não fosse suficiente, os frutos deste abuso foram usados para prejudicar o processo democrático”, disse Jason McCue, advogado que comanda o braço britânico da ação, ao jornal The Guardian. “Este caso é uma tentativa de garantir que nada disso volte a acontecer no futuro”.
O vazamento dos dados aconteceu a partir de um aplicativo para a rede social chamado “This is your Digital Life”, criado pelo pesquisador da Universidade de Cambridge Alexander Kogan em 2014. Cerca de 270 mil usuários baixaram o programa e deram autorização para que ele captasse não apenas suas informações, mas também a de todos os seus amigos, totalizando os 87 milhões de perfis afetados.
Os dados foram então entregues por Kogan a Cambrigde Analytica. A política do Facebook na época permitia que um aplicativo captasse dados de usuários sem autorização, mas proibia que eles fossem repassados a terceiros.
A empresa criada por Kogan para cuidar do aplicativo, a GSR, também é alvo da ação coletiva, assim como o grupo SCL, controlador da Cambrigde Analytica. As empresas afirmam que não fizeram nada de errado e que não violaram a lei.
Segundo o jornal britânico, são citados no processo ainda o próprio pesquisador e Steve Bannon, que era vice-presidente da Cambridge Analytica quando aconteceu o vazamento e que depois dirigiu a campanha de Trump à Casa Branca, se tornando assessor do presidente após a eleição -ele já deixou o cargo.