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Ex-engenheiro de som dos Beatles diz que tecnologia estragou a música

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Geoff Emerick não consegue ouvir o pop moderno sem se sentir enganado.

“Tudo parece igual”, reclama, “e não consigo distinguir se estou ouvindo um ser humano ou uma máquina”.

O britânico de 72 anos fala com propriedade: foi o engenheiro de som responsável pelos discos mais revolucionários dos Beatles, como “Revolver” (1966) e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967).
Ele criou técnicas e ferramentas que viraram padrões em estúdios e na forma como se produz e se grava músicas.

“A maioria dos plug-ins são baseados em músicas dos Beatles”, orgulha-se Emerick, referindo-se aos efeitos -ecos, ambiências, distorções- disponíveis em softwares de gravações, como Pro Tools e Logic.
Desde 1981 vivendo em Los Angeles, nos Estados Unidos, o inglês foi pioneiro em adaptar alto-falantes para servirem de microfones, por exemplo.

Também foram dele as ideias de gravar baterias com mais de dois microfones e de retirar a pele frontal do bumbo (a peça mais grave do instrumento) para preenchê-lo com panos e obter um som mais pungente, hoje um padrão.

Gravadoras não viam tais invencionices com bons olhos. “Ele fazia coisas bizarras que depois escondíamos da chefia; não pegava bem desrespeitar os manuais”, disse o produtor dos Beatles, George Martin (1926-2016), no documentário “The Beatles Anthology”.

Mas foram os truques que lhe renderam a confiança da banda. “John Lennon um dia veio todo faceiro: ‘Quero que minha voz soe como o Dalai Lama berrando sobre a mais alta montanha do mundo'”.
Naquele momento, diz ter se lembrado do alto-falante rotatório dos órgãos Hammond.

Desparafusa daqui, puxa fio dali, altera o circuito do componente eletrônico e… Lá está a experimental canção “Tomorrow Never Knows”.

Considerado uma lenda entre engenheiros de som, o britânico vai explicar essas e outras gambiarras em aulas e palestras em Porto Alegre (RS), de quinta (14) a domingo (17).
Sua narrativa deve partir do início da carreira na EMI, aos 15 anos, quando passava os dias fazendo backups das fitas.

Aos 19, foi alçado a engenheiro-chefe de som dos Beatles. O grupo preparava o álbum “Revolver”, que aprofundou a mudança do iê-iê-iê para a vanguarda sonora que culminou em “Sgt. Pepper’s”.
Com a banda, gravou mais cinco discos antes da separação, em 1970. Depois disso, trabalhou com artistas como Elvis Costello e Jeff Beck e tomou partido na célebre disputa entre os compositores: “Paul era o mais profissional, queria sempre a perfeição”.

Essa predileção foi alvo de críticas quando lançou “Here, There And Everywhere: My Life Recording The Music Of The Beatles” (2006), livro de memórias em coautoria com o jornalista Howard Massey.
A obra também revoltou fãs por falar mal dos discos “Rubber Soul” (1965) e “The Beatles” (1968), que classificou como “impossível de ouvir”.

Desprezar álbuns hoje considerados o estado da arte não é a única contradição de Emerick, que toca piano para relaxar, mas, mesmo sendo um papa dos estúdios, não registra suas composições.
E ele, que influenciou a forma como se faz música, hoje critica o uso da tecnologia, que ajusta até a afinação de um cantor ao vivo.

Como resultado, diz, “você liga o rádio e tudo soa igual; a expressão artística morreu”.
Daí a lição que pretende transmitir às novas gerações de técnicos: desliguem as telas e escutem as músicas.
“Quando Lennon cantava, eu sabia o que estava ouvindo; agora, o Grammy de melhor performance vai para o cantor ou para o computador?”

Marcley Matos

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