A ex-deputada Aline Corrêa (PP/SP), filha de Pedro Corrêa – ex-deputado e líder do PP, preso duas vezes, no Mensalão e na Lava Jato – declarou à Justiça Federal que empregou em seu gabinete na Câmara por mais de quatro anos uma funcionária que ‘nunca conheceu’. Segundo ela, seu pai, preso em Curitiba sob suspeita de ter recebido R$ 40,7 milhões em propinas do esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014, lhe pediu ‘um cargo’. Foi logo no seu primeiro mandato (2007/2011).
Reinasci Cambuí de Souza, a indicada de Pedro Corrêa, era, na verdade, empregada doméstica do ex-deputado, cassado em 2006 no processo do Mensalão.
A força-tarefa da Lava Jato sustenta que o salário de Reinasci na Câmara era ‘revertido’ em favor do próprio ex-parlamentar e da filha dele. Ao todo, Pedro e Aline teriam repartido R$ 622 mil supostamente pagos à doméstica.
“Nunca recebi salário da Câmara”, disse Reinasci à Justiça, em depoimento no dia 30 de junho.
Aline Corrêa declarou. “Ele (Pedro Corrêa) pediu um cargo no meu gabinete e depois veio o nome dela, o Ivan Vernon (ex-chefe de gabinete do então deputado) me trouxe o nome dela”, disse Aline ao juiz federal Sérgio Moro. Ela é ré em ação penal por corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa, mesmas acusações atribuídas ao pai.
Reinasci Cambuí de Souza ficou ‘lotada’ no gabinete da filha de Pedro Corrêa ‘do finalzinho de 2007 até 2011. Na audiência na Justiça Federal, realizada nesta quarta-feira, 26, o juiz Sérgio Moro perguntou a Aline se ela conhecia Reinasci. “Nunca vi, Excelência”, admitiu a ex-deputada.
“Ela não trabalhou, não foi lotada em seu gabinete?”, questionou o juiz da Lava Jato. Aline Corrêa respondeu: “Ela foi lotada no meu gabinete, aí eu reconheço uma negligência da minha parte, até por falta de experiência no meu primeiro mandato. Foi um pedido de meu pai. A gente tem um espaço lá de ter até 25 pessoas (no gabinete de deputado). Eu tive no começo muita dificuldade de montar minha equipe, pessoas que tivessem identidade com meu estilo de trabalho. Eu não queria nenhuma pessoa que fosse do meu pai a princípio. Eu queria montar a minha equipe. Tentei isso meu mandato inteiro para ter meu formato de trabalho.”
“A Reinasci foi um pedido, meu pai me fez, para que eu tivesse uma pessoa trabalhando para mim no partido”, prosseguiu a ex-deputada. Segundo ela, seu pai lhe disse. “Aline, olha, Reinasci é uma pessoa que trabalhou comigo, você pode pôr no seu gabinete que ela vai lhe dar uma assessoria através do Ivan Vernon. Ele vai ficar conduzindo seu espaço que precisar dentro do partido.”
“Essa foi a informação que eu tive Excelência”, disse Aline ao juiz Moro.
“A sra nunca viu essa pessoa?”, perguntou novamente o juiz. “Não”, admitiu Aline.
“Seu pai não havia pedido?”
“Ele pediu um cargo no meu gabinete e depois veio o nome dela e o Ivan Vernon me trouxe o nome dela.”
“Ela ficou quatro anos aproximadamente e a sra. nunca…?”, prosseguiu o juiz, demonstrando perplexidade. “Excelência, na verdade eu nunca tive, é onde eu reconheço minha, talvez, falta de experiência. Eu estava dando um cargo para aquela pessoa me ajudar no partido. Eu não precisava ter convivência com ela. Agora, depois dos fatos eu soube quem era essa pessoa.”
“Ajudar como, em quatro anos? A sra. não levantou nenhuma pessoa sobre essa pessoa?”, questionou o juiz. “Não, Excelência, não levantei. Na verdade, a coordenação do trabalho dela para mim era o Ivan Vernon. Eu não tinha uma relação direta com Ivan. Ele nunca teve nenhum vínculo comigo.”
(Estadão Conteúdo)