As agências de inteligência dos Estados Unidos abrirão uma investigação sobre os documentos vazados pelo Wikileaks que expõem mecanismos empregados pela CIA (serviço secreto americano) para hackear equipamentos eletrônicos, informou nesta quarta-feira (8) a emissora CNN.
Autoridades do governo federal disseram a repórteres do canal que o inquérito buscará descobrir como os papéis chegaram às mãos do Wikileaks e determinar se funcionários ou agentes estão por trás dos vazamentos. A CIA também quer saber se o site tem outros documentos que ainda não foram publicados.
Uma das preocupações dos serviços de inteligência é que o vazamento dos mecanismos de operação de espionagem permita a outros hackers aprender técnicas para realizar ciberataques em outras partes do mundo.
O Wikileaks divulgou nesta terça-feira (7) quase 9.000 arquivos criados entre 2013 e 2016, revelando as armas cibernéticas desenvolvidas em segredo pela CIA para roubar informações de alvos em outros países e transformar eletroeletrônicos simples em aparelhos de escuta.
A autenticidade dos documentos não foi comprovada, mas funcionários e ex-funcionários do governo afirmaram a jornais americanos que os detalhes existentes nos arquivos indicam que eles são legítimos.
As ferramentas criadas permitiriam à CIA hackear aplicativos de troca de mensagens como Whatsapp e Telegram, obter dados antes que eles sejam criptografados, além de ativar secretamente a câmera e o microfone do celular. Outro arma, batizada de “Anjo que chora”, transforma TVs da Samsung em pontos de escuta.
Segundo informações obtidas nesta quarta-feira pela agência de notícias Reuters, as autoridades de inteligência dos EUA sabem desde o fim do ano passado da existência de uma falha de segurança na CIA que foi usada pelo Wikileaks para vazar os documentos.
A procuradoria federal da Alemanha anunciou nesta quarta-feira que está analisando documentos vazados que indicam que a CIA usou o consulado americano em Frankfurt como base para a atuação de hackers.
Um relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) nesta quarta-feira diz que o mundo precisa de um tratado internacional para proteger a privacidade das pessoas de espionagem cibernética indiscriminada.
O documento, submetido ao Conselho de Direitos Humanos da ONU pelo especialista independente em privacidade, Joe Cannataci, diz que mecanismos tradicionais de proteção de privacidade, incluindo regras sobre grampos telefônicos, estão desatualizados na era digital.
“É hora de começar a recuperar o ciberespaço da ameaça da supervigilância”, disse Cannataci ao Conselho.
Na avaliação dele, deve ser criado um “mandado internacional” para o acesso a dados. Atualmente, governos estrangeiros que queiram solicitar dados de empresas de tecnologia precisam atender às salvaguardas jurídicas dos Estados Unidos, sede da maioria desses firmas.
O relatório foi submetido na semana passada, antes dos vazamentos mais recentes do Wikileaks.
O diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, afirmou nesta quarta-feira que “não existe privacidade absoluta” nos EUA.
“Não há nada parecido a privacidade absoluta na América; não há nada fora do alcance da Justiça”, disse Comey durante uma conferência sobre cibersegurança no Boston College.
Segundo ele, porém, os americanos “têm uma expectativa razoável de privacidade em suas casas, carros e equipamentos. É uma parte vital de ser um americano. O governo não pode invadir nossa privacidade sem um bom motivo, passível de revisão em tribunal.”
Comey afirmou que no último quadrimestre de 2016 o FBI teve autorização para acessar 2.800 equipamentos relacionados a investigações criminais e de terrorismo. Ele também disse que as autoridades não conseguiram acessar 43% desses equipamentos.
Comey não fez declarações diretas sobre os documentos vazados pelo Wikileaks, nem sobre as suspeitas de que a Rússia interferiu na eleição presidencial por meio de ciberataques. (Folhapress)
Wikileaks vaza papéis e acusa CIA de hackear equipamentos eletrônicos