Dois estudos diferentes sobre transparência de informações apontam resultados similares: as organizações brasileiras, tanto as privada quanto as públicas, são mais fechadas do que deveriam.
No segmento corporativo, uma pesquisa realizada pela ONG Transparência Internacional analisou as cem maiores companhias e os dez maiores bancos que atuam no país, atribuindo notas de zero a 100 para três quesitos: adoção de práticas anticorrupção, clareza da estrutura organizacional e transparência na divulgação de informações financeiras.
Em linhas gerais, a conclusão da ONG é que a Lava Jato deixou um legado positivo para as empresas. Petrobras, Braskem e JBS, por exemplo, companhias envolvidas em escândalos, tiveram notas médias altas, acima de 8.
Para Bruno Brandão, representante no Brasil da Transparência Internacional, é fácil explicar a razão: “É natural que elas façam um esforço maior na tentativa de reverter a imagem negativa”.
Em geral, porém, ainda há muito o que melhorar. Em 48 das 100 empresas avaliadas, por exemplo, não há um compromisso declarado da alta gestão em combater a corrupção -e, quando a alta gestão não está comprometida, o risco de práticas ilícitas cresce.
Pelos dados, o setor mais transparente foi o de energia, e o de menor clareza, o automobilístico. Todas as multinacionais de capital fechado, como montadoras, tiveram avaliações piores no que se refere ao detalhamento da estrutura organizacional.
No setor público, o levantamento batizado de Orçamento Aberto, do IBP (International Budget Partnership), mostrou que o Brasil regrediu. A pesquisa, realizada em 115 países, nos anos de 2015 e 2016, avaliou três pilares: transparência orçamentária, participação social e fiscalização. No quesito participação, o Brasil marcou 35 de 100 pontos em 2016, ante 71 registrados no relatório anterior, de 2015.
“Não podemos comparar diretamente os 35 pontos com 71, porque houve algumas mudanças na metodologia, mas sabemos que está aquém, porque mecanismos de participação que já estavam consolidados na rotina do governo não aconteceram no período”, diz Carmela Zigoni, assessora política do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), parceiro do IBP no Brasil.
No ranking global de transparência orçamentária, o Brasil manteve os 77 pontos obtidos no relatório anterior, mas perdeu uma posição na lista e deixou de ser o líder na América Latina, ultrapassado pelo México (79).
“O país estagnou. Avançou muito de 2006 a 2012, mas as recomendações do último relatório não foram acatadas”, afirma Zigoni. (Folhapress)