A origem humilde e as dificuldades nunca foram empecilhos para Nattan Modesto. O jovem de 30 anos, filho de uma técnica de enfermagem e um porteiro, conseguiu ultrapassar as barreiras sociais e entrou em uma Universidade Pública aos 25 anos. Agora, ele está prestes a realizar um sonho ainda maior, mas que está há um oceano e R$ 15 mil de distância.
O estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) foi aprovado em um programa de intercâmbio, no entanto, precisa arrecadar a quantia para conseguir estudar em Moçambique, na África. Nattan conta que se apaixonou por Ciências Sociais por ironia do destino.
Ele precisou começar a trabalhar desde cedo, e somente aos 25 anos, por conta de uma bolsa de estudos, teve a oportunidade de poder sonhar mais alto. “Consegui uma bolsa no cursinho para tentar Medicina, que sempre foi meu sonho. Mas, por ironia do destino, acabei me apaixonando por Ciências Socias, acabei tentando na Federal (UFG) e passei”, relata.
Já na Universidade, Nattan pôde exergar o mundo com outros olhos, e dali em diante, percebeu que a educação traria as oportunidades que tanto buscava. O intercâmbio foi uma delas. “Foi então que apareceu o Programa de Mobilidade da AULP (Associação das Universidades de Língua Portuguesa). Eu pensei, ‘Essa é a minha chance. Vou tentar'”, descreve.
O Programa escolhido por Modesto, o AULP, foi pensado para que estudantes de países de língua portuguesa, como Brasil, Angola, Portugal, Moçambique, Guiné-Bissau e outros, possam fazer intercâmbio entre instituições conveniadas. Por não exigir proficiência em inglês ou outro idioma estrangeiro, se torna mais acessível para estudantes que não falam outras línguas, porém, também é mais concorrido.
Nattan se inscreveu no programa de mobilidade e foi aprovado para cursar Ciências Sociais na Universidade Politécnica de Moçambique. O sonho estava mais perto de se tornar realidade. “Eu sabia que tinha nota suficiente pra passar, mas realmente jamais esperei que seria selecionado”, conta.
A modalidade escolhida por ele oferece ajuda de custo para moradia, alimentação e isenção de taxas estudantis. Entretanto, o estudante selecionado precisa arcar com os custos de passagens aéreas, seguro saúde, que é obrigatório, e demais gastos de permanência. Para isso, para que o sonho possa se tornar realidade, ele precisa de R$15 mil. “Nos meus cálculos um valor ideal seria de 15 mil reais, só as passagens estão cotadas hoje em 10 mil”, pontua ao elencar todos os custos.
O sonho de Nattan ultrapassou os limites da academia e atingiu outras pessoas. Amigos resolveram então ajudar e criaram uma vaquinha para arrecadar a quantia, no site “Nattan na África”. “Eu posso dizer que sou uma pessoa muito abençoada e tenho amigos incríveis. Inclusive, um desses amigos, o Lucas Scalia, fez um site pra mim e lá os apoiadores podem acompanhar as doações”. Em um dia no ar, o site da vaquinha do Nattan já conseguiu R$ 1.600 em doações, mas ainda falta muito para alcançar o valor necessário.
O estudante precisa estar em Moçambique em fevereiro e a cada dia que passa a ansiedade só aumenta. “Quanto mais o tempo passa mais caro as passagens ficam”, acrescenta Nattan, ao lembrar que pretende conseguir comprar as passagens aéreas até dia 15 de dezembro, antes das festas de final de ano, época em que os custos ficam ainda mais caros. Até o momento, ele só conseguiu R$ 1.700 mil, dos R$ 15 mil estipulados.
Ao contar dos planos e sonhos futuros pós-intercâmbio ele confidencia que ao voltar de Moçambique pretende se tornar pesquisador e professor universitário. Uma forma de retribuir o que a educação o possibilitou. “Me interesso muito por pesquisas na área de sociologia do trabalho. Incluvise, já tenho uma pesquisa no meu currículo sobre os trabalhadores de sinaleiro, em Goiânia, e que acredito que tenha sido um diferencial que me ajudou a conseguir o intercâmbio”.
De acordo com ele, o curso em Moçambique será uma grande oportunidade para aprender novas técnicas e conhecimentos, e pretende buscar meios de aplicar isso no Brasil. “Eu pretendo aprender novas técnicas de pesquisa, entender mais sobre economias diferentes do que a economia brasileira, e pensar em políticas públicas voltas à educação, que contribuam para a inclusão”, conclui.
As doações para a vaquinha “Nattan na África” podem ser feitas diretamente pelo site, clicando aqui.
* Luana Cardoso é estagiária pelo convênio com a Universidade Federal de Goiás (UFG) sob supervisão de Domingos Ketelbey