A facada foi em Jair Bolsonaro (PSL), mas Geraldo Alckmin (PSDB) é quem sentiu o golpe. Depois do ataque ao capitão, em 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), as previsões da campanha tucana uma a uma caíram e não houve reação que surtisse efeito.
O candidato chega às vésperas da eleição sem mudar de patamar de intenção de voto, com uma candidatura politicamente encolhida após sucessivos abandonos de aliados e pouca perspectiva de sobreviver ao primeiro turno.
O prazo estipulado por Alckmin para esboçar reação se estreitou. Era depois da Copa. Passou para agosto. Meados de agosto. Só em setembro. Segunda quinzena de setembro. Últimos 15 dias. Últimos sete dias. Últimos três dias. Em seu entorno ainda se fala em reviravolta, mas há pouca convicção.
O ambiente mudou. Antes do dia 6, cercado pela confiança de aliados e equipe, o tucano montava um arsenal para avariar a guarda do capitão reformado. Alckmin concentrava esforços em articulações políticas e em gravações para a propaganda de TV.
Suas agendas públicas eram majoritariamente feitas de encontros com lideranças e simpatizantes, em ambientes minimamente controlados.
Aliados lotavam sua caixa de e-mails. Em Pelotas (RS), no final de agosto, divertiu-se ao reler mensagem sugerindo que atravessasse o rio São Francisco a nado.
“Em campanha, todo mundo é técnico de futebol. Tem algum palpite para dar”, constatou.
Dias depois, com uma semana de horário eleitoral na televisão e no rádio, o dono da metade do tempo disponível para a propaganda política começava a ver seus esforços surtirem efeito.
Ainda que não tivesse subido nas pesquisas, a ofensiva aprofundava a rejeição a Bolsonaro, segundo a campanha. A aposta era que Fernando Haddad, depois de finalmente oficializado candidato do PT, encostaria no candidato do PSL, levando a uma recuperação do voto antipetista pelo PSDB. Aí veio a facada.
Como os demais postulantes, o tucano suspendeu os ataques a Bolsonaro. Foram cerca de dez dias de trégua, até que a impaciência tomou aliados. O capitão estava estável, e Alckmin mantinha sua habitual ponderação.
Pressionado, o tucano concordou em subir o tom. Foi para o estúdio gravar propagandas apontando o risco de venezuelização do Brasil, com descontrole econômico e social e autoritarismo.
Intensificou agendas de rua. Caminhadas por calçadões se tornaram diárias, especialmente em São Paulo, o estado que o elegeu três vezes governador, duas no primeiro turno. Queria, nos minutos diários em que o noticiário na TV dedica à agenda dos candidatos, aparecer com o povo.
Moças e moços de calça verde e camiseta amarela fecharam contrato por pouco mais de R$ 1.000 para um mês de campanha. Com coreografias feitas para os jingles tocados em espiral, aguardavam o candidato chegar sob chuva (Guarulhos) ou no calor de 30ºC (Santo André). Os atrasos viraram piada: até José Serra estava mais pontual.
As agendas não atraíram multidões. Militantes do PSDB deram volume aos atos, mas a receptividade nas ruas foi, em geral, calorosa. Se fotos dessem votos, brincava-se, o tucano finalmente deslancharia.
No bairro da Liberdade, na capital paulista, dias atrás, uma simpatizante entregou a Alckmin um pacote de pão de mel. Ele comemorou. “A última vez que almocei foi no mês de agosto”, brincou.
Mesmo entre aliados, o tucano não dá sinais de abatimento. Bolsonaro se mantém isolado na liderança, seguido por Haddad. Estrategistas da campanha do PSDB duvidam de vitória no primeiro turno. Mencionam a vantagem de votos que o deputado precisaria abrir e o bom desempenho esperado do PT no Nordeste.
Interlocutores ensaiam teses sobre a campanha. Elencam, primeiro, o palanque duplo em São Paulo. O argumento decisivo de Alckmin para conquistar o apoio do centrão, em julho, era que seus 30% de votos paulistas o garantiam no segundo turno. Entregou até agora metade disso.
O segundo problema, apontam, é o desgaste do PSDB e seus constrangimentos semanais com operações policiais, prisões e traições. Um dos fundadores do partido, Xico Graziano esperou a última semana da eleição para anunciar sua desfiliação e declarar voto em Bolsonaro.
Ex-chefe de gabinete e aliado de Fernando Henrique Cardoso, Graziano alegou decepção com o pragmatismo de Alckmin ao se aliar ao centrão. “Decisão dele, naturalmente. Trabalhou comigo, não trabalha mais. Cada um é cada um. Repito: meu voto será em Alckmin”, disse FHC.
A terceira questão apontada pela campanha tucana é o PT, que se desobrigou de atacar Bolsonaro e se refugiou no que veem como vitimismo decorrente da prisão de Lula.
Por fim, concluem, o perfil do candidato parece ter se provado moderado demais para o momento do país. (Folhapress)
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