“Estamos à mercê [da violência]. Ele, mesmo policial, foi vítima”, queixava-se na tarde desta quarta-feira (8) Rogério Pereira, no enterro do colega de profissão Mário Marcelo de Albuquerque, 44, policial civil que foi morto no dia anterior ao intervir em mais um assalto na onda de crimes no Espírito Santo.
A morte de Marcelinho, como era conhecido, motivou uma paralisação de delegados, peritos, investigadores, escrivães e médicos -que decidiram manifestar apoio aos policiais militares em greve.
Onda de violência no ES PM está em greve desde o dia 3 de fevereiro ‘É uma chantagem’, diz governador sobre protesto de familiares de PMs Com PM em greve, ES tem aumento de violência e pede ajuda do Exército Justiça diz ser ilegal greve de PM no ES e estipula multa de R$ 100 mil por dia Onda de violência em Vitória superlota departamento de medicina legal Pai de dois filhos, um de 8 anos e outro de 9 meses, ele foi enterrado no município de Serra, região metropolitana de Vitória. Cerca de 500 policiais compareceram ao velório, além de parentes.
Marcelinho morreu ao tentar evitar um assalto em uma rodovia de Colatina, no interior do Estado. Ele estava acompanhado de outro policial em um carro particular.
Os assaltantes, que tentavam roubar uma moto, reagiram e houve troca de tiros.
Marcelinho, que trabalhava na DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), foi atingido no abdômen e chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Cinco suspeitos pelo assalto foram presos.
O Estado do Espírito Santo está sem policiamento desde sábado (4), quando começou um movimento de familiares de policiais militares bloqueando as unidades e impedindo a saída de viaturas.
A Polícia Civil, desde então, vinha atuando normalmente. Um total de 1.200 homens das Forças Armadas e da Força de Segurança Nacional foram enviados à Grande Vitória a pedido do governo.
No enterro, a mulher do policial, Patricia, afirmou que não sabia que o policial era tão querido entre os colegas.
“O próximo plantão dele era sábado, 7h. Fico imaginando para os colegas, que vão chegar para trabalhar e ele não vai estar lá”, disse.
Um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou o enterro e lançou pétalas de flores.
“Era uma tragédia anunciada”, diz Ricardo Vieira, que conhecia Marcelinho da igreja. “Ele era muito esperto. Não dá para acreditar que ele foi ajudar uma pessoa e aconteceu isso”, afirma Leonardo Santos, também da igreja.
Eles são moradores de Feu Rosa, bairro da periferia da Serra, onde o movimento de familiares de PMs teve início.
Segundo seu relato, o Exército não chega ao bairro e há tiroteios todas as noites.
“Já era para as autoridades terem tomado medidas. Estão achando que o Exército vai resolver e botando nossa vida em risco. Se a polícia não tem segurança, imagina nós que não temos nada”, diz Santos.
Segundo a Entidades Unidas da Polícia Civil, devido ao protesto pela morte de Marcelinho, somente as unidades regionais funcionarão para atender emergências nesta quinta-feira (9).
“Não é greve, é legítima defesa”, disse Rodolfo Laterza, coordenador da organização e presidente do Sindicato dos Delegados do Espírito Santo.
“Vamos fechar delegacias que não têm segurança. As delegacias estão em colapso, não podemos trabalhar com um ou dois policiais”, completou.
Folhapress