O diretor de um programa da ONU afirmou na quarta-feira (25) que, expulsa de seus bastiões no Iraque e na Síria, a organização terrorista Estado Islâmico está trabalhando com facções extremistas na África para criar uma nova onda migratória à Europa.
A estratégia, segundo o representante das Nações Unidas, é agravar a crise da fome naquela região e, assim, estimular uma debandada.
“Vocês terão um padrão semelhante àquele de alguns anos atrás, exceto que desta vez haverá mais grupos militantes infiltrados entre os migrantes”, disse David Beasley, chefe do Programa Alimentar Mundial da ONU, ao diário britânico The Guardian.
Beasley foi governador da Carolina do Sul e, após apoiar a campanha do republicano Donald Trump à Presidência, foi indicado para o posto.
Com a guerra civil se alastrando pela Síria desde 2011, somada a outras crises, o continente europeu recebeu centenas de milhares de refugiados nos últimos anos. O ápice foi registrado em 2015, quando só a Alemanha foi o destino de quase um milhão de pessoas.
Esse fenômeno estimulou uma série de respostas políticas e, em algumas das nações europeias, contribuiu ao crescimento de movimentos nacionalistas ou xenófobos, como a Frente Nacional francesa e a Alternativa para a Alemanha.
Além do impacto econômico, uma das preocupações era a possível entrada de militantes entre as fileiras de refugiados –poderiam realizar atentados.
O Estado Islâmico de fato foi responsável por uma série de ataques à Europa, incluindo uma ação coordenada em Paris que deixou 130 mortos em 2015. Mas em diversos dos casos –como no da capital francesa– os atentados envolviam moradores locais radicalizados, e não migrantes.
Desta vez, segundo Beasley, o Estado Islâmico quer usar a carência de alimento em porções da África como sua estratégia de recrutamento. “Eles estão se aliando a grupos extremistas como o Boko Haram e a Al Qaeda para repartir o território e os recursos com a esperança de criar migração à Europa, onde poderão se infiltrar e criar caos.”
“Meu comentário aos europeus é que, se vocês pensam que tiveram problemas com um país de 20 milhões de pessoas, como a Síria, esperem até que a região do Sahel africano, com 500 milhões, seja desestabilizada. É neste ponto que vocês precisam acordar.”
“A comunidade internacional, os europeus em especial, aprendeu uma lição no início da guerra da Síria: se vocês não garantirem a segurança alimentar, haverá consequências indesejadas”, afirmou.
A região mais afetada pela migração dos últimos anos, no entanto, não foi a Europa, e sim o próprio Oriente Médio, para onde se deslocaram as maiores porções dos refugiados vindos do conflito sírio.
Do total de 5,6 milhões de refugiados sírios, 3,6 milhões foram à Turquia e 990 mil foram ao Líbano –cuja população total é de 6 milhões de pessoas, apenas seis vezes maior. A Alemanha, que em 2015 recebeu também quase um milhão de pessoas, tem 82 milhões de habitantes (e um PIB de R$ 11 trilhões).
A situação é caótica também dentro da Síria, onde a ONU estima haver 13,1 milhões de pessoas precisando de ajuda, com quase 3 milhões vivendo em zonas sob cerco ou de difícil acesso. (Folhapress)