Os cuidados com os dentes e a gengiva nunca foram tão importantes como agora. É que além de ser um hábito de higiene para qualquer pessoa, a má conservação dos dentes pode provocar o agravamento em uma contaminação por Covid-19. É o que aponta um estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) que detectaram, pela primeira vez, a presença do SARS-CoV-2 na gengiva de pacientes com COVID-19 que faleceram em decorrência da infecção.

Para o odontólogo Carlos Bandeira, o simples fato de manter atenção constante na higienização já ajuda a prevenir possíveis agravamentos. “O que nós temos que ter como hábito constante é priorizar a higiene oral. Com relação a esse momento que estamos passando com a covid-19, já está provado cientificamente que através de evidências científicas laboratoriais, ou seja, foi recolhido material da gengiva de pacientes com covid,que demonstra que na placa bacteriana e no tártaro , há um agrupamento muito grande do vírus”, destaca. A regularidade é uma questão importante neste ponto. 

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“É importante ter uma higiene oral rigorosa, escovando logo após as refeições e também o uso do fio dental, para a remoção da placa entre os dentes. São cuidados básicos, e adiciono também, substâncias como a clorexidina, presente em enxaguantes bucais que também diminuem a quantidade de vírus, lembrando que a transmissão é via oral, então o cirurgião dentista tem um papel fundamental nesse momento, do ponto de vista educativo, para trazer informações e também o paciente procure seu profissional, seu dentista, para poder realizar a remoção de tártaros”, explica Bandeira.

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Antes do surgimento do SARS-CoV-2, outros poucos vírus, como o do herpes simples (HSV), o Epstein-Barr (EBV) e o citomegalovírus humano (HCMV) já tinham sido detectados em tecidos gengivais. As possíveis fontes de infecção podem ser as células epiteliais da gengiva, expostas à cavidade oral, e a migração desses vírus pela corrente sanguínea.

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“Se a gengiva está sangrando, se você tem algum problema, lembre bem,  todas as vezes que você expõe vasos sanguíneos, ou seja, sangramentos, e você está com o vírus e assintomático, esse vírus ganha circulação sanguínea, na corrente de sangue, ele pode se alojar no pulmão, causando um grave quadro de pneumonia, que nós chamamos por aspiração, e que leva a complicações e algumas vezes tem que ser internado”, conclui Bandeira

A detecção do SARS-CoV-2 na gengiva também corrobora a hipótese de que a inflamação do tecido gengival (periodontite) aumenta o risco de apresentar quadros graves de COVID-19, avaliam os pesquisadores. Isso porque pessoas com periodontite têm maior secreção do fluido gengival que compõem a saliva. Além disso, comorbidades como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica, fatores que podem contribuir para um pior prognóstico de COVID-19, estão altamente associadas à doença periodontal.

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“A periodontite acontece inicialmente na gengiva, e depois ataca o osso ao redor do dente, ligamentos e estruturas que dão suporte ao dente. A gengivite, que faz parte da periodontite, é o primeiro sinal, ela fica avermelhada, sangrando, e também com um odor fétido. Ela leva a perda do dente. Outra patologia que muita gente conhece e que o dente pode ser perdido, é a cárie. O periodonto são estruturas que dão suporte ao dente, por exemplo a gengiva e o osso, então a gengivite é o estágio inicial da periodontite. Esse material da periodontite, fazem com que o fluido gengival, uma substância que nós temos na boca normalmente aumente a quantidade, então esse material favorece a multiplicação do vírus  na cavidade oral. É muito importante se ter uma higiene adequada e visitas regulares ao cirurgião dentista, isso foi feito em uma pesquisa pela USP e ali foram removidos fragmentos da gengiva de principalmente quem estava com essas patologias, gengivite e periodontite e foi detectado a presença do vírus”, explica Doutor Carlos

Os pesquisadores pretendem analisar, agora, a carga viral de SARS-CoV-2 no tecido periodontal de pessoas com COVID-19 assintomáticas ou com sintomas leves da doença para avaliar se a resposta nessas células é diferente em comparação com as de pacientes em estado grave.

Atualmente, eles estão estudando os receptores de entrada do SARS-CoV-2 na cavidade bucal. Já se sabe que a presença do vírus na boca pode ter diferentes origens. O SARS-CoV-2 infecta as células usando o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE-2) como entrada. Esse receptor pode ser encontrado em vários locais na boca, como na língua, em células epiteliais ductais das glândulas salivares e no tecido periodontal. O receptor ACE-2 também foi expresso no ligamento gengival e periodontal em fibroblastos humanos.

O odontólogo alerta que não se deve ter medo em ir à uma consulta com um dentista em tempos de coronavírus. Os consultórios médicos sempre passaram por protocolos de biossegurança rígidos e não é diferente agora com uma pandemia em curso. “A saúde realmente começa pela boca, nós estamos preparados para atender, não oferecendo risco de contaminação, então  categoria hoje é como foi na  aids, hepatite B, e demais patologias que vem aparecendo, estamos preparados com normas rígidas de biossegurança para garantir um atendimento cem por cento seguro. Para evitar a circulação de muitas pessoas na rua, nós também dividimos a quantidade de pessoas que visitam consultório, outra questão importante que eu não tinha dito sobre a biossegurança é que o paciente está indo sozinho, só quando necessita mesmo de acompanhante, então é necessário que o paciente que está com periodontite ou uma cárie ele tem que procurar um cirurgião dentista mesmo nesse momento de pandemia, pois estamos preparados e dando toda a segurança para que ele tenha um atendimento”, conclui Carlos Bandeira.

(Colaborou Pedro Leite, estagiário do Diário de Goiás)

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