“Não se via nada na estrada, porque estava tudo a arder. Era um inferno autêntico”, descreve Maria de Fátima Nunes, moradora de Pedrógão Grande, região no centro de Portugal, que conseguiu escapar do maior incêndio florestal da história do país.
Até agora, autoridades já confirmaram 61 mortos e 57 feridos no fogo que começou na tarde de sábado (manhã do Brasil). O governo português chegou a dizer que 62 pessoas tinham morrido e 59 tinham ficado feridas, mas recuou.
Maria de Fátima e o marido foram algumas das centenas de pessoas que, diante da proximidade das labaredas, tentaram usar as rodovias da região para escapar. Com as altas temperaturas -cerca de 40ºC- e os ventos fortes, a estrada rapidamente também acabou tomada pelas chamas.
“Fomos por lá porque não se sabia que a estrada estava em perigo”, explica Maria, com a voz embargada.
“Não se via nada, nada. Era horrível. Os pinheiros começaram a cair para cima dos carros”, descreve ela, que, assim como o marido, conseguiu escapar do carro e da estrada, apesar de queimaduras de primeiro e segundo graus nos braços e no pescoço.
A moradora diz que houve pânico na estrada e que vários veículos acabaram batendo, diante da fumaça e das árvores incandescentes que tombavam no caminho. “Eu gritei para a senhora que estava no carro atrás de mim sair, mas ela não conseguiu”, relata.
Ela diz que perdeu documentos, dinheiro e quase todos os pertences com incêndio.
MAIOR DA HISTÓRIA
O incêndio florestal na região de Leiria, próxima a Coimbra, já é o maior da história de Portugal, um país que tem já tem tradição de ser castigado pelo fogo durante os meses mais secos do ano (entre maio e setembro).
Chegou-se a cogitar que o fogo seria criminoso, mas a hipótese foi descartada pela PJ (Polícia Judiciária), responsável pela investigação.
Segundo a PJ, o fogo começou com um raio que atingiu uma árvore. Com os ventos fortes, o clima seco e as altas temperaturas, as chamas rapidamente se alastraram.
O fogo começou em Pedrógão Grande e chegou com velocidade às vilas vizinhas de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra.
Atualmente, cerca de 900 bombeiros (muitos deles voluntários), e cerca de 300 viaturas trabalham no combate ao incêndio, que ainda não foi controlado em várias de suas frentes.
Diante da tragédia, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, foram até local acompanhar as operações.
“Temos pela primeira vez uma calamidade humana desproporcionada”, resumiu o socialista António Costa. “Essa é uma realidade, nova, dura, e que vai exigir de todos nós muita consideração e atenção às famílias. A prioridade agora é combater o incêndio e auxiliar as famílias que estão enlutadas”, completou.
“Muito provavelmente, o número de mortos irá subir”, admitiu o primeiro-ministro.
Diversos países europeus manifestaram solidariedade e pesar com as vítimas portuguesas. O governo da França e da Espanha estão enviando auxílio material, sobretudo helicópteros, para combater o incêndio.
Devido ao fogo, várias regiões ficaram isoladas, com as estradas cortadas e também sem luz, telefone e internet devido ao derretimento dos cabos.
Neste domingo (18), o governo português decretou três dias de luto nacional. A agenda do presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi suspensa até terça (20).