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Política
| Em 1 mês atrás

Envolvimento de oficial lotado em Goiânia em preparação terrorista de golpe surpreendeu Exército

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O envolvimento em planos para golpe de estado com requintes de preparação terrorista por parte do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, oficial lotado em Goiânia e preso na manhã desta terça-feira (19), foi o que mais surpreendeu o Exército na Operação Contragolpe da Polícia Federal (PF). A informação foi publicada no jornal O Globo, pela jornalista Miriam Leitão, após a operação que prendeu outros quatro investigados.

O plano do qual ele teria participado tem características de terrorismo (leia ao final) e faz relembrar as suspeitas de que o ministro Alexandre de Moraes seria trazido e morto em Goiânia, como já foi apurado nas investigações. Chama a atenção a operação ocorrer uma semana depois de um atentado suicida em Brasília utilizando explosivos e também durante o encontro dos líderes do G20 no Rio de Janeiro.

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Oficial envolvido nos planos de golpe foi preso no Rio de Janeiro durante G20

Azevedo é oficial do Estado Maior do Exército e do Comando das Forças Especiais, que tem um batalhão em Goiânia, mas foi preso no Rio de Janeiro. Segundo fontes da jornalista, ele pediu para ir ao Rio para visitar o planejamento da segurança do G20, e também para participar da formatura das Forças Especiais.

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“Disseram-me, no entanto, que ele não estava na operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), mas confirmaram que estava no Rio e que visitou o planejamento do GLO”, informou Míriam Leitão.

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Leia também: PF prende, em Goiás e outros estados, militares suspeitos de planejar matar Lula e Alckmin em 2022

O oficial do Exército é investigado com outros por envolvimento em um suposto plano minucioso de golpe para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes autorizou as prisões e tirou o sigilo do processo (Veja a íntegra da decisão sobre os envolvidos, as prisões e outros mandados, ao final).

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Outros dois oficiais do Exército investigados por envolvimento nos planos de golpe e que estavam na ativa e cuja lotação ainda não foi divulgada, tenente-coronel Hélio Ferreira Lima e tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, já haviam sido atingidos pela operação “Tempus Veritatis”. Lima foi afastado da posição de comando que tinha e Oliveira foi preso e estava usando tornozeleira eletrônica. Segundo o jornal, foi preso também o capitão Lucas Guerellus.

O general da reserva Mario Fernandes, que foi secretário da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro, igualmente já havia sido afastado do Exército depois da operação “Tempus Veritatis”. Ele também estava no Rio nesta terça sob a alegação de acompanhar a formatura do filho nas Forças Especiais do Exército.

Em nota, o Exército informou que dá apoio às investigações. A reportagem não conseguiu localizar as defesas dos cinco presos.

Armamento de alto poder, explosivos e veneno para matar autoridades

A PF localizou um plano detalhado e até um vídeo em que o general Mário Fernandes trata do golpe abertamente durante uma reunião ministerial com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre a operação Contragolpe que aborda o envolvimento dos oficiais nos planos de golpe.

O vídeo foi uma das provas recuperadas pela inteligência da PF no celular do ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid que tinha deletado o material comprometedor.  A operação, inclusive, também coincide com um novo depoimento de Cid, prestado na tarde desta terça na PF de Brasília.

Nos planos descobertos, os militares indicavam pistolas, metralhadores, fuzis, tropas, veículos, artefatos explosivos e veneno para matar as três autoridades. Moraes seria atacado ou com explosivos, ou seria envenenado em algum evento público.  Os autores do plano admitiam os elevados riscos do golpe, chamados de “danos colaterais” (mais pessoas feridas) e baixa do militar (morte) que estivesse à frente

Detalhes do plano com sinais de ação terrorista

Os oficiais com envolvimento no plano de golpe utilizaram codinomes de Jeca, Joca e Juca para se referirem a Lula, Alckmin e Moraes. Já a operação, com característica terrorista, foi batizada pelos investigados de “Copa 2022”, se referindo especialmente ao monitoramento do ministro do STF.

Segundo O Globo, o plano começa descrevendo os dados para “Rec Op” abreviando “reconhecimento operacional”. Nesse capítulo, são listados os possíveis “locais de frequência e estadia” dos alvos.

Em seguida, é detalhado o “Pessoal e Bolhas de Seg Pres”, se referindo provavelmente aos seguranças de Alexandre de Moraes e o poder de fogo que eles detinham. “Efetivos (4 PF e 2 Mot [motoristas]), que contariam com “col balístico, arm ind pst (pistola), Gr LS (granada de luz) e 2 Fz 5,56 (fuzis), além dos modelos dos carros que eles utilizavam – “SUV Pretas – placas” com “Bld (blindagem)”.

O documento ainda cita possíveis “danos colaterais passíveis e aceitáveis” e diz que o “tempo ideal” para o levantamento dessas informações seria de “2 semanas” na “Região DF e SP”.

O segundo tópico do plano trata das “Demandas para a Prep e Condução da Ação (Meios)” para a execução da operação clandestina contra o ministro do Supremo, que deveria ser realizada no dia 15 de dezembro de 2022 – antes da posse do presidente Lula.

Tipos de armas: de metralhadora a granadas

Os tais “meios” se referem a armamentos “individuais e coletivos” que deveriam ser usados na ação militar (“4 pst 9 mm ou .40, 4 fz 5,56 mm, 7,62 mm ou .338”), munições não rastreáveis (“160 mun 9 mm ou .40, 5,56 mm, 7,62 mm ou .338 [perfurantes])” e 5 telefones celulares “descartáveis”.

O plano também previa o uso de metralhadora (“mtr M249 MAG Minimi”), lança granadas, lança rojão e doze granadas. Segundo o arquivo descoberto pela PF, o tempo ideal para a preparação seria de no “mínimo 2 semanas” e a ação duraria “cerca de 8 de horas”.

Decisão de Alexandre de Moraes

Na sua decisão sobre o caso, o ministro Alexandre de Moraes enfatizou:

A investigação da Polícia Federal demonstra que as ações operacionais ilícitas executadas por militares com formação em Forças Especiais (FE) do Exército, com participação de General de Brigada da reserva, e com a finalidade, inicialmente, de monitoramento de Ministro desta SUPREMA CORTE, para a execução de sua prisão ilegal e possível assassinato e, posteriormente, com o planejamento dos homicídios do Presidente e Vice-Presidente eleitos – LUIS INÁCIO LULA DA SILVA e GERALDO ALCKMIN – , com a finalidade de impedir a posse do governo legitimamente eleito e restringir o livre exercício da Democracia e do Poder judiciário brasileiro, tiveram seu auge a partir de novembro de 2022 e avançaram até o mês de dezembro do referido ano, como parte de plano para a consumação de um Golpe de Estado, em uma operação denominada pelos investigados de “Copa 2022”, conforme apontado pela Polícia Federal.

Dessa forma, ministro decidiu pela:

(1) A PRISÃO PREVENTIVA de HÉLIO FERREIRA LIMA, MARIO FERNANDES, RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, 079.879.987-02), RODRIGO BEZERRA AZEVEDO e WLADIMIR MATOS SOARES ;

(2) A BUSCA E APREENSÃO de armas, munições, computadores, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, bem como de quaisquer outros materiais relacionados aos fatos aqui descritos, concomitantemente com diligências policiais previstas no artigo 6º do Código de Processo Penal, nos endereços fornecidos pela Polícia Federal, em poder de LUCAS GARELLUS, RODRIGO AZEVEDO, WLADIMIR MATOS SOARES.

(3) A BUSCA E APREENSÃO PESSOAL em desfavor de HÉLIO FERREIRA LIMA, LUCAS GARELLUS, MARIO FERNANDES, RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA,  RODRIGO BEZERRA AZEVEDO  e WLADIMIR MATOS SOARES ),

(4) A PROIBIÇÃO DE MANTER CONTATO

(5) PROIBIÇÃO DE SE AUSENTAREM DO PAÍS, com determinação para entrega de todos os passaportes (nacionais e estrangeiros) no prazo de 24 (vinte e quatro) horas

Entre outras medidas, inclusive requerendo informações ao Exército sobre viaturas que seriam usadas nos atentados.

Confira a íntegra da decisão abaixo!!!

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Marília Assunção

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Também formada em História pela Universidade Católica de Goiás e pós-graduada em Regulação Econômica de Mercados pela Universidade de Brasília. Repórter de diferentes áreas para os jornais O Popular e Estadão (correspondente). Prêmios de jornalismo: duas edições do Crea/GO, Embratel e Esso em categoria nacional.