Goiânia, 10 de maio de 2016 – Em entrevista ao site A Redação, o governador Marconi Perillo disse, ontem (10/5), que se o vice-presidente Michel Temer assumir o governo terá de montar um ministério qualificado, diminuir o número de ministérios e cortar gastos do governo federal, inclusive cortando cargos comissionados. Para Marconi, Temer terá de focar em equalizar a economia, mostrar credibilidade e dar segurança institucional, para que os empresários voltem a investir e os trabalhadores tenham segurança no emprego.
Marconi também respondeu a perguntas sobre diversos assuntos relacionados à gestão de governo, como privatização da Celg Distribuição, recuperação de estradas, programa de gestão compartilhada de escolas com Organizações Sociais, investimentos em cultura, entre outros temas. Abaixo, os principais trechos da entrevista, apresentada por temas e declarações do governador.
“Estava disposto a receber a presidente de forma republicana, mas fui informado que, mais uma vez, havia uma claque, radicais partidários de políticos que estaria ali para me agredir”
Eu sempre tratei todas as autoridades de forma institucional, respeitosa e republicana no Estado. Recebi várias vezes a presidente Dilma e várias vezes o ex-presidente Lula, e também o ex-presidente Fernando Henrique. Eu compreendo que um governo precisa ter relações diplomáticas respeitosas e que possam trazer benefícios para o Estado, tanto em relação ao governo federal, quanto em relação aos municípios.
“Tenho certeza que se não fosse a minha ação e a ação do Governo de Goiás, o aeroporto não estaria pronto agora. Talvez sequer iniciado”
O que ocorreu é que eu trabalhei muito para que o novo aeroporto de Goiânia fosse construído. Foram mais de cem visitas que fiz ao ministério da Defesa, da Avião Civil, à Infraero e, principalmente, no Tribunal de Contas da União, que era o órgão onde estava embargado o aeroporto por suspeita de irregularidades. Só em reuniões com ministros, presidente, relator do TCU, auditores, eu fiz mais de 20, até que chegássemos a um denominador comum. Fui mais de cem vezes a Brasília para cuidar dessa questão do aeroporto. Tenho certeza que se não fosse a minha ação e a ação do Governo de Goiás, o aeroporto não estaria pronto agora. Talvez sequer iniciado, como é o caso do Aeroporto de Vitória. Felizmente eu pude ajudar o governo federal a destravar essa importante obra, viabilizando acordo entre o consórcio de empresas e a Infraero.
“Ao longo de 20 anos trabalhamos para que esses novos campus fossem transformados em universidades”
Sobre as duas universidades, ao longo de 20 anos os nossos governos aportaram quase R$ 200 milhões em apoio a pagamento de professores, construção de prédios, infraestrutura, doação de áreas. E ao longo desse tempo todos nós trabalhamos para que esses novos câmpus fossem transformados em universidades. No final do ano passado, eu estive duas vezes com a presidente e ela me assegurou que criaria, me autorizou que falasse aqui em Goiás que as universidades estavam autorizadas e seriam criadas. Depois disso, ela recebeu pressão por parte de políticos daqui de Goiás para segurar o processo. Depois, eu voltei a falar com ela e com o ministro Mercadante e ambos me garantiram que esse assunto seria resolvido. Até que na semana passada o prefeito Paulo Garcia me disse que a presidente Dilma havia decidido que realmente iria atender e anunciar a criação das universidades, o que aconteceu ontem em Brasília, quando ela assinou o projeto de lei e enviou ao Congresso e depois aqui em Goiânia, quando ela fez o anúncio. Ontem (segunda-feira, 09/05) eu estava disposto a receber a presidente de forma republicana, como sempre fiz, mas fui informado que, mais uma vez, havia uma claque, radicais partidários de políticos que estaria ali para me agredir, me receber de forma agressiva. Então, eu resolvi não comparecer e pedi para que a presidente fosse comunicada. Mesmo nesse período de crise, de discussão sobre impeachment, eu não me furtaria a estar lá como chefe de Estado. O que poderia ocorrer era que de um lado alguns dos meus amigos e simpatizantes do nosso projeto não compreenderiam o fato de eu ir lá nesse momento traumático no Brasil, por outro lado ainda seria hostilizado por pessoas que apoiam a presidente. Está aí a minha decisão.
“Sem as reformas o governo vai fracassar e ninguém quer que o governo fracasse”
Não tenho pensado nisso. A grande preocupação que tenho hoje é que, havendo o impeachment, que o presidente Temer monte uma boa equipe, apresentar um bom retrato de uma equipe preparada, reduzir o número de ministérios. Eu disse isso a ele [Temer] e também ao ministro Padilha que seria importante reduzir o número de ministérios, o número de cargos comissionados. Contei o que eu fiz aqui em Goiás com nossa reforma em 2014, ele anotou todas as secretarias e órgãos que eu juntei e ontem eu pude perceber, recebendo informações pela imprensa, de que o presidente vai reduzir dez ministérios. Acho que isso é um bom começo. Ele está colocando na Fazenda um bom ministro, que é o Meirelles, reconhecido pela competência e bastante respeitado. Terá que ter peso para fazer as mudanças. Acho que o presidente está trabalhando competentemente com os partidos para garantir governabilidade e maioria para fazer as reformas. Sem as reformas, o governo vai fracassar e ninguém quer que o governo fracasse. Nós queremos que o presidente Temer, caso se confirme o impeachment amanhã, que faça a transição e eleve o Brasil a um porto seguro, que tire o país desse atoleiro econômico e político. O recado que eu, particularmente, tenho dado aos líderes do PSDB é que não deve se envolver em discussões envolvendo 2018. Temos que pensar em como ajudar o Brasil a atravessar esse mar de dificuldades para chegar a 2018 com o Brasil de pé, com a população menos insatisfeita, melhor atendida, e voltando a acreditar que é possível ser otimista em relação ao futuro do país. Essa sensação de que o Brasil chegaria o primeiro mundo foi fortemente abalada.
“O que nós queremos na Educação não é privatizar, quem fala isso está desinformado ou está mentindo”
Há muita desinformação em relação às Organização Sociais, que são instituições sem fins lucrativos. As OSs resolveram o problema da administração em todos os hospitais do Estado de Goiás e em muitos outros Estados administrados por todos os partidos. Hoje nós temos uma altíssima aprovação por parte dos usuários da rede estadual hospitalar pelo nível de qualidade do atendimento. O que nós queremos na Educação não é privatizar, quem fala isso está desinformado ou está mentindo.
“O que nós queremos é qualidade e que os alunos sejam priorizados, que eles sejam o principal protagonista”
O que nós queremos é qualidade e que os alunos sejam priorizados, que eles sejam o principal protagonista de toda nossa ação na área da Educação. Todos são importantes: professores, diretores, subsecretários. Mas o grande protagonista é o aluno. Ele é o foco. Ele precisa aprender. Ele precisa sair da escola pública capacitado para concorrer a grandes vagas em universidades públicas para depois também ocupar as melhores vagas no mercado de trabalho. Nosso objetivo é ter uma gestão eficiente, que cobre o cumprimento das metas de todos os envolvidos na área da Educação. O que está em jogo é um disciplinamento, exigindo de todos o cumprimento de metas. Queremos realizar em Goiás a primeira experiência no país com OSs na Educação. Não queremos privatizar nada e muito menos piorar a Educação, pelo contrário. Já temos a experiência dos colégios militares, combatida por muitos radicais, mas elogiada pela grande maioria da população. É uma experiência que deu certo. Tem disciplina e ensino de qualidade. O que o Estado quer é que os alunos tenham oportunidade. Estamos com um novo edital sendo publicado para fazer novamente um novo chamamento para o primeiro bloco de escolas da rede estadual de Anápolis. Nossa meta é expandir a rede e deve chegar ao Entorno do Distrito Federal em breve. Estamos fazendo o chamamento para os Institutos Tecnológicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento, que são os Itegos. Estamos também pensando em OSs para a área da Cultura para a Orquestra Filarmônica. Provavelmente concessão do Centro de Excelência, do Centro Cultural Oscar Niemeyer, e também OSs para os Centros de Apoio Socioeducativo. Essas são algumas decisões que já tomamos. Em relação à Segurança Pública e aos novos presídios, estamos trabalhando a ideia da parceria público privada.
“Todos os compromissos culturais que temos desde 1999 serão mantidos e aprimorados”
Todos os festivais serão realizados. Todos os compromissos culturais que temos desde 1999 serão mantidos e aprimorados. Eu defini desde o final do ano passado um recurso orçamentário, destinação financeira para esses festivais. O formato será decidido entre a secretária e o superintendente de Cultura. A recomendação que eu faço é que o Estado tenha a melhor programação possível, sempre discutindo com a comunidade.
“Estamos mantendo as principais obrigações em dia, como o pagamento dos funcionários, da dívida externa e priorizando o cumprimento das vinculações constitucionais”
Continuamos com dificuldades ainda. Primeiro, as necessidades e as demandas por novos serviços nos levam a contratar mais, e gastar mais em todas as áreas. Segundo, tivemos uma fortíssima retração econômica. Só neste ano nós tivemos mais de R$ 300 milhões de perdas de receitas porque tem muitas pessoas desempregadas. Só no varejo tivemos, nos três primeiros meses do ano, 26% a menos de ICMS. Então, por conta desse desajuste da economia nacional, os Estados acabam perdendo receita e acabam atrapalhando o planejamento e a previsibilidade. Mas estamos mantendo as principais obrigações em dia, como o pagamento dos funcionários, da dívida externa e priorizando o cumprimento das vinculações constitucionais. Ainda temos restos a pagar, ainda temos fornecedores para receber, mas estamos trabalhando fortemente para realizar o necessário equilíbrio financeiro e fiscal do Estado. Não sabemos como vai ficar a economia daqui a pra frente. Havendo a mudança do novo governo, nós vamos aguardar as medidas anunciadas nos primeiros dias para nos adequar a essas mudanças. Nós já fizemos reformas profundas aqui, corajosas, no ano passado adiamos aumentos salariais, fizemos todos os ajustes que foram necessários. Estamos complementando esses ajustes agora em 2016, mas não teremos neste ano os desgastes que tivemos no ano passado. Várias ações estão sendo adotadas, entre elas consultorias importantes, como a da Falcone, que nos ajuda hoje no ajuste rigoroso em relação aos gastos.
“Existem muitos pedidos de concursos. Estamos estudando todas as possibilidades”
Concurso segue com o cronograma rigorosamente em dia. Temos que refletir o que está acontecendo em outros Estados. O Estado não pode dar aumentos ou contratar mais pessoal do que consegue pagar.
“Mudanças podem ocorrer a qualquer momento. Estou contente com a minha equipe”
Mudanças sempre são possíveis em qualquer governo, não que haja hoje um planejamento nesse sentido. Mas mudanças podem ocorrer a qualquer momento. Estou contente com a minha equipe. As mudanças recentes foram boas. O vice-governador José Eliton tem realizado um ótimo trabalho na Segurança Pública, da mesma forma os secretários Joaquim Mesquita e Thiago Peixoto. Thiago está afastado temporariamente para se dedicar ao trabalho dele na Câmara até que esse processo do impeachment tenha um desfecho final, mas é um quadro valorosíssimo.
“A empresa tem um prejuízo mensal de R$ 100 milhões e eu não tenho dúvida de que o governo federal terá que tomar uma decisão urgente”
A presidente Dilma parou a publicação do edital por conta de pressões de movimentos sociais e políticos. A empresa tem um prejuízo mensal de R$ 100 milhões e eu não tenho dúvida de que o governo federal terá que tomar uma decisão urgente ou, seja qual for o resultado de amanhã, sob pena da Celg entrar em colapso. Eu já alertei muitas vezes que a privatização será importante porque quem ganhar a licitação terá que investir R$ 2 bilhões em curto prazo para atender novas demandas por energia e ao mesmo tempo vai tirar a Celg desse sufoco, que é de ter prejuízos mensais. Eu defendo que o Estado cuide apenas das áreas mais essenciais. Os Estados não deveriam ter tido nunca a responsabilidade de assumir empresas que são responsabilidade do setor privado. As estatais, no geral, serviram de cabides de emprego e de desvios de recursos públicos e de ninhos de geração de corrupção. Eu digo que o que aconteceu na Petrobras poderia ter acontecido no sistema de telefonia, na Telebrás, na Vale do Rio Doce, na Embraer, na companhia siderúrgica nacional e em muitas outras empresas que foram privatizadas no governo Fernando Henrique Cardoso. Imagina se não tivessem sido privatizadas, os prejuízos para os brasileiros hoje seriam muito maiores.
Estou muito motivado, acho que estou só começando! Sempre gosto de trabalhar muito no primeiro ano, organizando a base, para depois decolar. Já estou programando muita coisa para o segundo semestre. Vou definir uma fortíssima agenda de viagens pelo interior a partir do ano que vem e, se Deus quiser, teremos boas notícias.
“A preocupação nossa é manter os serviços de Educação, Segurança, Saúde, do Vapt Vupt, entre outros, e também manter em boas condições as nossas estradas.”
A estratégia nossa agora é recuperar as estradas que já estão sendo recuperadas. Nós tivemos um atraso no cronograma de reconstrução do terceiro lote do programa Rodovida Reconstrução porque faltou uma parte do empréstimo do governo federal e estamos fazendo uma operação emergencial em alguns trechos. A preocupação nossa é manter os serviços de Educação, Segurança, Saúde, do Vapt Vupt, entre outros, e também manter em boas condições as nossas estradas. Também estamos focando na conclusão de obras iniciadas. Estamos concluindo o Centro de Excelência, estamos trabalhando para concluir a duplicação da rodovia Goiânia-Bela Vista, a duplicação entre Nerópolis e a Belém-Brasília, estamos trabalhando para concluir o trecho entre Goiânia até o trevo de Mossâmedes. E, daqui para frente, vamos priorizar a conclusão das obras. O foco nesse momento é manutenção do que existe e conclusão do que está iniciado para iniciar novas obras. Outro compromisso nosso é manter e dar continuidade aos programas sociais, priorizando o Cheque Moradia, Bolsa Universitária, a retomada do Renda Cidadã, o Transporte Cidadão no Eixo Anhanguera, o Passe Livre Estudantil na região metropolitana e em outras regiões do Estado, e também convênios com prefeituras. As ações sociais da OVG, como os restaurantes cidadãos, a rede Vapt Vupt, entre outros. Estamos trabalhando fortemente para melhorar órgãos, como o Detran-GO. Estamos fazendo bem o dever de casa em Goiás e continua animado, até mais animado que antes.