O Ministério Público Federal (MPF) denunciou nesta terça-feira (21) sete pessoas por suposta invasão de celulares de autoridades brasileiras. Entre eles está o jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, que tornou públicos diálogos de autoridades da Operação Lava Jato.
Várias entidades reagiram à denúncia do MPF. Em nota oficial, a Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas (Abrat), diz que a ação é um rechaço à liberdade de imprensa no país. A Abrat diz que causa estranhamento o alto número de vezes em que o ministro da Justiça, Sergio Moro, é citado na peça e ainda diz que a medida é ostensiva e remete a um estado policial autoritário.
Por sua vez, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também condenou a denúncia, considerando-a uma violação da liberdade de imprensa. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) classificou a ação como “inepta” e “um atentado à Constituição”. Ambas pedem que a Justiça rejeite a denúncia por não haver provas de crimes de Greenwald.
No The New York Times, jornal de maior circulação dos Estados Unidos, a denúncia também repercutiu. O veículo americano cita que os diálogos publicados por Greenwald “levantaram questões sobre integridade, profissionalismo e os motivos dos principais membros do sistema de justiça do Brasil”.
Políticos
Os políticos dividiram suas opiniões a respeito da denúncia contra o jornalista. O deputado Eduardo Bolsonaro diz que “quem sabe (Glenn) agora vai conhecer a cadeia”. Para o senador Alvaro Dias, houve um “rosario de crimes praticados”. Ele ainda disse que “Glenn Greenwald e seus comparsas têm grandes chances de puxar uma longa cana”. A deputada estadual Janaína Paschoal defendeu a investigação. “Sugiro àqueles que estão criticando, as leituras das páginas 52 a 62 do documento, em especial os diálogos”.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e outros políticos, principalmente de esquerda, criticaram a ação do MPF. Para Maia, a denúncia é “uma ameação à liberdade de imprensa. Jornalismo não é crime”, disse. O ex-presidente Lula afirmou que Greenwald foi “vítima de mais um evidente abuso de autoridade contra a liberdade de imprensa e a democracia”. Candidato à presidência em 2018, Ciro Gomes classificou a ação como “sem pé nem cabeça”.
Liminar proibia investigação
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em agosto do ano passado, proibiu que o jornalista fosse investigado pelas mensagens publicadas em reportagens no The Intercept. Segundo a decisão liminar do ministro, Greenwald não poderia ser alvo de qualquer ato que visasse sua responsabilização.
Mendes levou em consideração o artigo constitucional que garante ao jornalista o sigilo de fonte. “Concedo, em parte, medida cautelar apenas para determinar que as autoridades públicas e seus órgãos de apuração administrativa ou criminal abstenham-se de praticar atos que visem à responsabilização do jornalista Glenn Greenwald pela recepção, obtenção ou transmissão de informações publicadas em veículos de mídia”, disse o ministro na decisão.