Empresários goianos têm relatado muitas dificuldades para acessar as linhas de crédito da Goiás Fomento neste período de restrições às atividades econômicas. Com a queda no faturamento, milhares de empreendedores precisaram recorrer a empréstimos. Os empecilhos, porém, fazem muitos pensar em desistir e fechar as portas.
Segundo o presidente da Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi, há muitos relatos de empresários do setor que sofrem para tentar crédito. Ele cita que a exigência de certidões negativas para empréstimos tem sido uma das grandes barreiras. “Estamos fechados há 100 dias, sem regularidade financeira. Para a maioria, é impossível dar as garantias pedidas”, disse.
No gênero alimentício, a possibilidade de manter o delivery não mitigou as perdas. Proprietária de um pit-dog em Goiânia, Cárita Avelino não conseguiu acesso ao crédito oferecido pelo governo. Ela entrou em contato com a GoiásFomento assim que as restrições começaram e, como em outras oportunidades, teve o pedido negado por falta de fiador. “Do jeito que eles querem, é impossível conseguir uma linha de crédito. Quem vai ser seu fiador no mundo de hoje? É impossível achar uma pessoa”, pontuou.
Ela, que emprega atualmente quatro pessoas, já precisou demitir um funcionário e afastar outro, fazendo uso da medida provisória do governo, que garante o pagamento de salários do colaborador por dois meses. A empresa vive situação difícil e o socorro não veio nem em bancos privados ou cooperativas de crédito. “Tenho conta no Sicoob e tentei por lá. A gerente disse que não há nada disponível. Os juros estão altos, tudo como era antes”, conta. A última esperança de Avelino será um empréstimo da Caixa. Se não vier, o futuro da empresa pode ficar em risco.
A situação de Márcio Antônio da Silva é ainda mais dramática. Ele é dono de uma lanchonete e outra empresa que vende sucos de laranja. Ele solicitou crédito à GoiásFomento há 80 dias, mas ainda não houve uma definição. O processo dele foi analisado preliminarmente e seguiu para o departamento que faz análise para a liberação dos recursos. Não há, porém, prazo para que o pedido seja acatado ou negado.
“Eles alegam que há mais de 2 mil pessoas na minha frente e estão com poucos funcionários. Você não consegue entrar em contato com o departamento. Não sabem quando vão ter a resposta se vão liberar ou não o crédito”, afirmou. Márcio vive situação dramática e já fez vários malabarismos para evitar fechar as portas, mas ele prevê que, sem crédito, as empresas não resistirão mais de duas semanas.
“Estou precisando do dinheiro para ontem. Estou aos 49 do segundo tempo. Se eu não conseguir uma linha de crédito até dia 10 ou 15 de julho, vou quebrar. Vou ficar sujo no mercado, pois não tenho dinheiro para bancar. Devo imposto trabalhista, devo aluguel, FGTS. Já vendi o que eu tinha para vender. Só tenho a minha casa, mas não posso vendê-la”, contou. O empresário também buscou empréstimos em bancos privados, via Pronampe (programa de facilitação de crédito do governo federal), mas não conseguiu. Na Caixa, ele não tinha as certidões ambientais exigidas pelo banco para dar andamento ao processo.
Segundo o presidente do Sindipitdog, Ademildo Godoy, existem 3 mil empresas do ramo em Goiás e, pelos dados do sindicato, ninguém conseguiu acessar as linhas de crédito. “O dinheiro não chega na ponta”, afirma. “Falta ação concreta nesse sentido”, pontua.
Burocracia
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Goiás (Sindilojas), Eduardo Gomes, afirmou que as exigências de bancos e da GoiásFomento estão inviabilizando a obtenção de crédito. “Você vê muitos anúncios, mas não vê nada disso chegando na ponta”, destacou. Ele também alertou que a dificuldade em conseguir o dinheiro, aliada às restrições, vai culminar no fechamento de várias empresas e eliminação de milhares de empregos.
Um empresário da área de silvicultura também citou vários problemas para se conseguir crédito em fundos estaduais, como a GoiásFomento e o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). “Quando você fala GoiásFomento, a gente sabe que não vai dar certo. Exigem uma série de coisas que não existem, como garantia real de até 200%, fiador e projeto. Há muita burocracia. Ele diz ainda que os solicitantes devem ter certidões negativas, o que dificulta ainda mais. “Quem não tem negativação depois de quatro meses de comércio fechado?”, questiona.
O empresário está próximo de viabilizar crédito através Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), do governo federal. Ele teve dificuldades, mas vê um mecanismo muito mais simples, com menor burocracia, juro mais baixo e sem necessidade de apresentar fiador e garantia real. “O governo federal está fazendo o que pode ser feito, mas os governos estadual e municipal não estão fazendo nada”, opina.
A reportagem não conseguiu retorno da Goiás Fomento até o fechamento desta reportagem.