O ex-diretor de Serviços Renato Duque, preso ontem, recebeu propinas de até R$ 60 milhões, conforme relataram os executivos da Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Mendonça de Ribeiro.
As nove principais empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato formaram um “clube” para desviar recursos de obras públicas segundo depoimentos dos delatores do esquema. Na Petrobrás, o cartel fraudou licitações e superfaturou contratos em pelo menos nove grandes empreendimentos, mediante o pagamento de suborno a dirigentes. O ex-diretor de Serviços Renato Duque, preso ontem, recebeu propinas de até R$ 60 milhões, conforme relataram os executivos da Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Mendonça de Ribeiro.
Aos investigadores, Mendonça disse que na obra de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), por exemplo, ele negociou o pagamento de propina diretamente com Duque. Segundo ele, já existia um entendimento entre o então diretor de Serviços e Ricardo Pessoa (presidente da UTC) de que todos os contratos do “clube” deveriam ter contribuições.
“O declarante negociou propina diretamente com Duque e acertou pagar a quantia de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões, o que foi feito entre 2008 e 2011. Duque tinha um gerente que, agindo em seu nome, foi quem mais tratou com o declarante, chamado Pedro Barusco”, descreve o Ministério Público Federal em seu relatório. Autoridades da Suíça bloquearam US$ 20 milhões em nome de Barusco.
No pedido de prisão enviado Justiça, o Ministério Público diz que houve repasses do “clube” ao ex-diretor nas obras, além da Repar, do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), dos gasodutos Urucu-Manaus e de Cabiúnas, de sondas de perfuração, além das refinarias de Paulínia (SP), Abreu e Lima (PE) e Henrique Lage (SP). O “clube” ainda mantém contratos de R$ 4,2 bilhões em vigor com a Petrobrás. “Caso seja pago o porcentual de 3% de propina em todos eles, o valor do desvio de recursos atualmente acontecendo será de aproximadamente R$ 120 milhões”, destacam os procuradores encarregados da investigação.
Paraísos fiscais. Segundo os dois delatores, o dinheiro das propinas era pago pelas empreiteiras, via offshores em países no Uruguai e a Suíça, a empresas indicadas pelo doleiro Alberto Youssef, apontado como o responsável pela lavagem dos recursos desviados. Em seguida, eram repassados ao ex-diretor ou ao gerente Pedro Barusco, seu subordinado na Petrobrás. Não raro, os pagamentos eram feitos em espécie. Nos depoimentos, os delatores do esquema – que esperam ter suas penas reduzidas após a colaboração com a Justiça – disseram que o cartel das empreiteiras funciona ao menos desde os anos de 1990 fraudando contratos. Entre elas, havia um grupo de VIPs, supostamente formado por Odebrecht, UTC, Camargo Correa, Andrade Gutierrez e OAS, que tinha maior poder de “persuasão” para ficar com os melhores contratos.
“Com esse poder de persuasão, o clube Vip garantiu a refinaria Rnest (Abreu e Lima) só para eles”, disse Augusto Mendonça aos investigadores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.