SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em resposta à crise gerada por anúncios ao lado de vídeos ofensivos no YouTube, o Google decidiu limitar os vídeos que podem ter propagandas no site.
Em março, centenas de marcas boicotaram o serviço após propagandas aparecerem ao lado de vídeos do Estado Islâmico e do grupo neonazista Combat 18, entre outros conteúdos de potencial incitação à violência.
Para corrigir o problema, apenas canais que conquistarem mais de 10 mil visualizações poderão monetizar seus vídeos. Quem está começando a produzir, portanto, pode demorar um pouco mais para ganhar algum dinheiro.
O impacto deve ser pequeno, já que os produtores são pagos de acordo com o CPM, ou “custo por mil impressões”, uma medida que varia conforme o canal. Canais maiores têm CPM mais alto, e canais pequenos -que agora ficaram de fora da monetização-, já tinham taxas muito baixas de retorno.
O Porta dos Fundos ou a Kéfera, por exemplo, ganham uma proporção maior da receita publicitária do que um canal recém-criado, mesmo se o primeiro vídeo postado por esse canal nanico tiver milhões de visualizações.
O objetivo de limitar as propagandas, conforme a explicação da empresa, é supor que vídeos racistas ou violentos seriam denunciados por algum espectador antes de atingir 10 mil visualizações.
INCERTEZA
Alguns produtores com mais de 10 mil visualizações sentiram que seus rendimentos mudaram na última semana, apesar de isso não ter sido anunciado pelo YouTube.
Fernando dos Reis, que tem o canal de games FeFuoW, afirma que está ganhando um sétimo dos valores de antes, mas não entendeu o motivo. “É um período de turbulência, e parece que o YouTube está se adaptando, mas ainda estamos no escuro. Eles não explicam todas as mudanças”, afirma.
Procurado, o Google afirma que a política de anúncios está sendo revista, e os canais que se sentiram prejudicados injustamente devem alertar a empresa por meio do próprio sistema do YouTube.
O youtuber Morjax fez um estudo com base na ferramenta SocialBlade que conclui que cada canal ganha, em média, 0,008 inscritos para cada visualização em seus vídeos. Isso significa que um canal com 80 inscritos já conseguiria atingir o patamar necessário para monetizar seus vídeos.
“É uma troca aceitável, considerando o volume de dinheiro que está em jogo, mas não consigo deixar de acreditar que vai desmotivar criadores novos”, diz o produtor de vídeos, que também trabalha com games.
O SocialBlade demonstra, ainda, que as primeiras 10 mil visualizações “descartadas”, que não podem mais ser monetizadas, valeriam algo em torno de US$ 14 em média.
Em uma postagem no blog dos criadores do YouTube, um executivo da empresa escreveu que a ideia de esperar 10 mil visualizações é que isso “dá informação o suficiente para determinar a validade de um canal”.