Em meio a acusações de fraude, protestos e críticas, a Assembleia Nacional Constituinte foi instalada nesta sexta-feira (4) na Venezuela.
A ex-chanceler Delcy Rodríguez foi eleita a presidente da Constituinte, que deverá reescrever a Constituição do país. Ela rejeitou a “interferência externa” e criticou os Estados Unidos, que acusaram Nicolás Maduro de romper a ordem constitucional e anunciaram sanções contra o presidente venezuelano.
“Os venezuelanos resolverão nossos conflitos, nossa crise, sem nenhum tipo de interferência externa, sem nenhum tipo de mandato imperial”, disse Delcy durante o discurso inaugural em cerimônia no salão elíptico do Parlamento, em Caracas. “Não se meta com a Venezuela, que a Venezuela jamais vai desanimar ou vai se entregar.”
Maduro disse que a Assembleia de 545 membros -eleita no domingo (30) em votação boicotada pela oposição- irá “trazer paz a uma nação agredida” por protestos violentos e por uma profunda crise econômica.
De acordo com o órgão eleitoral venezuelano, mais de 8 milhões de pessoas votaram a Constituinte, o que representa 41,53% do total de eleitores do país. Na quarta (2), entretanto, a empresa Smartmatic, responsável pelo sistema eletrônico da votação, acusou o governo de manipulação e disse que o comparecimento foi inflado em pelo menos 1 milhão de pessoas.
Apesar das acusações, Delcy disse que os trabalhos na Constituinte começarão já neste sábado (5).
“Não pensem que vamos esperar semanas, meses ou anos. Vamos agir a partir de amanhã [sábado]”, disse.
Antes da cerimônia, funcionários do Partido Socialista caminharam ao Congresso em uma marcha festiva por Caracas. Eles carregavam retratos do herói da independência Simon Bolívar e do ex-presidente Hugo Chávez. As homenagens foram repetidas na cerimônia, que enalteceu líderes do partido.
Mais cedo, o Vaticano pediu para o governo venezuelano suspender a Constituinte e fez um apelo direto às forças de segurança para que evitem usar força excessiva ao lidar com protestos da oposição.
Iniciativas em curso, inclusive a eleição da Assembleia Constituinte, “criam um clima de tensão e conflito e não levam em conta o futuro”, disse o Secretariado de Estado da Santa Sé em comunicado, pedindo que as mudanças sejam evitadas ou suspensas.
O texto também pediu que a Venezuela respeite os direitos humanos e a Constituição atual do país.
Protestos contra a Constituinte mobilizaram milhares de opositores nos últimos meses. Pelo menos 120 manifestantes foram mortos. (Folhapress)