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Direito e Justiça
| Em 3 anos atrás

Em manifesto, família de Maurício Sampaio apresenta dúvidas sobre investigação do caso Valério Luiz

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Às vésperas da realização do juri popular que irá julgar o empresário Maurício Sampaio, acusado em ser o mandante do assassinato do cronista esportivo Valério Luiz, em julho de 2012, a família do ex-presidente do Atlético Goianiense divulga um manifesto público contestando detalhes do inquérito e jogando dúvidas sobre o processo. A tese é que Sampaio não tinha motivo algum para a atitude extrema e que outras linhas de investigação foram deixadas de lado.

O manifesto começa voltando dez anos no tempo, pouco antes do assassinato do cronista ao citar que a denúncia menciona que a motivação para o crime foi uma crítica que Valério Luiz supostamente teria direcionado, no dia 17 de junho, a Mauricio Sampaio, então vice-presidente do Atlético Goianiense: “Nos filmes, quando o barco está afundando os ratos são os primeiros a pular fora”. 

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“Nesse mesmo dia, ao desembarcar em Goiânia, o diretor de futebol do Atlético, Adson Batista, aos ser abordado pela imprensa goiana, recusa-se a conceder entrevista aos jornalistas ligados a Valério Luiz, sob a enfática justificativa de que – mostrando-se profundamente ofendido com a “fala dos ratos” – “enquanto o Valério estivesse na rádio, não iria se pronunciar, porque Valério o teria chamado de rato e ladrão’”, rememora um trecho do documento. 

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Na prática, a tese da família é que Valério se referia a Ádson e não a Maurício Sampaio. “Observa-se que em nenhum momento acontece qualquer embate entre Valério Luiz e Maurício Sampaio”, pontua. “Em nenhum momento dessa celeuma, o nome do Maurício é mencionado e não há nada que o coloque como destinatário da fala ou, sequer, partícipe do delito”, relata.

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O documento também acusa vícios na investigação e a suposta condução fraudada do processo, como por exemplo, o local do crime não ter sido preservado e as portas do carro de Valério teriam ficado abertas com a camiseta manuseada antes das autoridades policiais. A página 282 do processo também mostra que o celular do cronista não foi periciado e entregue à viúva, a advogada Lorena de Oliveira sem nenhuma formalidade. “O aparelho celular foi encontrado na cena do crime, ao lado do corpo de Valério, com nove chamadas não atendidas; foi levado pela polícia, mas não foi objeto de perícia”, relata.

Dúvidas sobre as testemunhas do crime

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O texto também mostra que seis testemunhas relataram que o atirador era um homem escuro. “Por que a polícia acusa Ademar Figueredo de ser o autor dos disparos que vitimaram a pessoa de Valério Luiz, sendo ele um homem de cor extremamente clara, reluzente, até, de olhos claros?”, indaga o documento. 

“A autoridade policial, ao colher os depoimentos das testemunhas oculares (visuais, presenciais), deparou-se com uma descrição absolutamente distinta do biotipo de Ademá Figueiredo (inserido artificiosamente no inquérito como forma de vincular Maurício Sampaio ao crime) e, por essa razão, não quis prosseguir no reconhecimento normatizado pela lei processual penal”, continua. 

Há também o apontamento de álibi para o sargento Ademar Figueredo que no horário do homicídio estava na casa do apresentador Joel Datena. “Para comprovar isso, foi entregue à Delegada de Polícia um pen drive contendo as imagens do circuito de monitoramento do condomínio onde morava o referido apresentador e que comprovam que, no horário do crime, o acusado estava dentro do condomínio”, relata o documento.

“As imagens contidas no pen drive – e também no DVR que foi apreendido pela polícia – mostram o acusado entrando na companhia de Joel Datena às 12:19 horas e, ainda com Joel, saindo às 14:48 horas, no exato momento em que este iria fazer a cobertura do crime que vitimou o próprio colega de trabalho, Valério Luiz de Oliveira”, destaca.

Filho de Maurício diz que pai estava acostumado com críticas: “Não há provas e não tem motivo”

Filho de Maurício Sampaio, Thiago Sampaio em entrevista ao Diário de Goiás destaca que o pai não tinha motivos para matar o radialista. “No ambiente do futebol, é absolutamente normal você lidar com críticas e xingamentos pesados. Meu pai estava acostumado com isso. Ele não tinha motivos para matar ninguém por esse motivo”, destaca. Ele atribuí a Adson a responsabilidade em ter proíbido a entrada de Valério Luiz e a equipe de esportes da PUC TV – veículo que o cronista trabalha – às vésperas do assassinato.

“Mas isso é normal no ambiente do futebol. Clubes proíbem determinadas equipes esportivas e depois de um mês elas estão lá de novo fazendo seus trabalhos. O Santos, dias atrás, proibiu uma emissora de entrar no CT e hoje estão lá de novo fazendo a cobertura diária. Não tem polêmica nisso. Faz parte do dia-a-dia em que os ânimos às vezes se exaltam”, relata. 

Ele diz que está tranquilo com relação ao julgamento, mas preocupado com os vícios apontados ao longo dos últimos dez anos. “Se fosse pra gente pensar no que tem nos autos, se fosse fazer um julgamento olhando o contexto da situação, seria uma situação de extrema tranquilidade e confiança pra gente. É uma narrativa completamente sem fundamentos e provas. Mais do que não ter provas, não tem motivo. O problema é que foi construída uma narrativa e aí a mídia e a opinião pública ao longo de uma década acabou tornando uma coisa irreal e transformou isso numa realidade”, pontuou.

“O nosso receio é se o júri popular vai se ater aos fatos narrados no contexto do que tá no processo ou se ele vai pegar aquilo que ouviu nos últimos dez anos”, pontuou. “Eu duvido muito que qualquer pessoa iria adotar um tom condenatório se ela se ater aos fatos do que aconteceram no processo”, relatou.

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Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.