“Quantos aqui oram e lutam porque teremos um Brasil vencedor?”, diz o ex-deputado e bispo Robson Rodovalho a um pavilhão na periferia de Brasília abarrotado com líderes de sua igreja, a Sara Nossa Terra.
O ministro Henrique Meirelles entra em cena na sequência, numa chuvosa sexta-feira (5), apresentado por um dos fiéis mais proeminentes da congregação evangélica que já atraiu do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha a Letícia Weber, mulher do senador Aécio Neves.
Dono da rede de lojas Riachuelo, “a 15ª maior empregadora do país”, e “talvez o mais expressivo líder empresarial hoje”, Flavio Rocha integra uma rede de 1.500 empresários cadastrados na Sara, anuncia Rodovalho no palco iluminado por um painel onde se lê “novos avanços”, mote da noite.
Cabe a Rocha, ex-católico convertido após casar com uma evangélica, introduzir o ministro à plateia.
Estamos vendo algo “extremamente profético” acontecer, diz o empresário: a “virada de página” da economia, uma “luz no fim do túnel”, e a “lucidez” de Meirelles tem muito a ver com isso.
Para Rocha, goste ou não dela, a “esquerda tem coerência” em suas demandas, como o pleito por um Estado grande. “Já a direita tem tido problema de encontrar coerência em seu discurso”, diz à reportagem antes da cerimônia.
“O Brasil está pedindo um liberal de cabo a rabo”, alguém que defenda o Estado mínimo na economia e valores conservadores no campo dos costumes, defende.
“Quem sabe o ministro possa ser esse nome?”, afirma, sem contudo querer cravar um apoio mais definitivo ao pré-candidato.
Ao falar aos fiéis reunidos, Meirelles defendeu as reformas do governo. “Imagina uma família em que todos gastam mais do que ganham e vão pedir dinheiro ao banco emprestado, juros subindo, inflação subindo, emprego caindo. Isso é o que estava acontecendo no Brasil”, disse.
Acrescentou que quer batalhar para que “a família, que é o núcleo de toda a sociedade, possa estar mais saudável”.
O ministro terminou sua participação no palco com um soquinho e um grito de “vamos em frente!”.
Quando Meirelles foi paparicado por milhares de pastores na Convenção Geral das Assembleias de Deus, em julho, meia Brasília entrou em alerta. Estaria atrás de uma intervenção divina para uma eventual candidatura à Presidência?
Se hoje seu apetite eleitoral é favas contadas, o tour religioso também se integrou à rotina do ministro, que se declara “católico por formação”.
Nos últimos meses, Meirelles tem buscado se aproximar do segmento evangélico, que abocanha 32% da população brasileira, segundo pesquisa Datafolha de dezembro.
Participou da festa de 106 anos da primeira Assembleia de Deus, no Pará, e comemorou os 85 anos do bispo Manoel Ferreira, da Assembleia de Deus Madureira, em Brasília.
São visitas fora da agenda ministerial -que na sexta (5) só listava “despachos internos” entre os compromissos.
Ladeado pelo bispo Rodovalho e mulher, a também bispa Lúcia, Meirelles foi agraciado com uma oração que prevê “uma profecia para o Brasil: será um país cristão, um país de fé”.
O ministro diz que aproveita a interlocução com lideranças evangélicas para defender a reforma da Previdência, que Rodovalho classifica em conversa com a reportagem como “sóbria e necessária”.
Conterrâneos da goiana Anápolis, Rodovalho e Meirelles também cruzaram caminho em Brasília.
Em 2016, lá estava o bispo, pleiteando com o então governo interino de Michel Temer um canal com bancos públicos e privados, atrás de linhas de financiamento para construir templos.