Em depoimento à Polícia Federal, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) declarou nesta quarta (14) que seu silêncio “nunca esteve à venda”, negou qualquer recebimento de propina para não fazer delação e afirmou que não foi procurado por nenhum representante do presidente Michel Temer com o objetivo de comprar o silêncio dele.
Cunha frisou que não foi procurado “direta ou indiretamente” por interlocutores do doleiro Lucio Funaro para que ele não fizesse revelações sobre supostos negócios ilícitos.
Em gravação feita por Joesley com o presidente Temer, o empresário conta que está agindo para manter boas relações com Eduardo Cunha e o doleiro Lucio Funaro. Em depoimento posterior, Joesley relatou que pagou R$ 400 mil a Funaro para que ele e Cunha não contassem as irregularidades que conheciam da JBS e de integrantes do PMDB como Temer.
O empresário afirmou à Procuradoria-Geral da República que pagou R$ 5 milhões ao peemedebista.
Temer disse que Joesley era um “falastrão” e por isso não teria levado a sério a conversa que teve com o empresário num porão do Palácio do Jaburu, a residência do presidente.
Cunha afirmou no depoimento à Polícia Federal também que não teve a intenção de constranger Temer com uma série de perguntas que enviou ao presidente.
O ex-deputado disse que “as questões formuladas foram parte da estratégia de defesa do declarante e não tiveram a intenção de constranger o presidente Michel Temer ou qualquer outra pessoa”. Sobre as questões que encaminhou à Justiça de Brasília, “o declarante informou que irá tratar destes fatos no momento processual adequado naquela ação penal”.
Segundo Cunha, o fato de a Polícia Federal ter encontrado recursos com a irmã de Lucio Funaro, Roberta Funaro, “demonstra que os recursos da J&F Investimentos [que controla a JBS] ficaram com ela”.
O ex-deputado negou que conhecia Roberta, presa na Operação Patmos em 18 de maio.
Nessa data, a PF aprendeu R$ 1,7 milhão em espécie em sua residência, que teriam sido entregues pela JBS para que seu irmão não fizesse acordo de delação. Funaro, no entanto, negocia acordo com a Procuradoria-Geral da República.
Roberta também foi filmada recebendo uma mala com R$ 400 mil de um lobista da JBS chamado Ricardo Saud. Depois, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, converteu a medida em prisão domiciliar.
O advogado Rodrigo Sanchez Rios, que defende Cunha, disse à reportagem “que o deputado tem interesse em prestar todos os esclarecimentos a respeito desses fatos”.
O depoimento durou cerca de uma hora e meia. A defesa tentou adiar a oitiva, argumentando que não teve acesso à íntegra do inquérito. Ainda assim, o ex-deputado resolveu fazer “uma declaração geral”, segundo Rios, a respeito das acusações.
O ex-deputado, investigado na Operação Lava Jato, permanece preso em Curitiba. A defesa de Cunha já pediu a anulação da delação da JBS ao STF (Supremo Tribunal Federal). (Folhapress)