Os 120 ônibus que compõem a frota do transporte coletivo de Anápolis passaram a exibir em seu interior, nesta sexta-feira (23), um cartaz, denominado violentômetro. Articulada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), a ação é coordenada pela 13ª Promotoria de Justiça de Anápolis. O material gráfico informativo, que traz uma escala de cores que possibilita à mulher reconhecer os diferentes tipos e graus que a violência pode assumir nas relações íntimas de afeto, vai servir como ferramenta de prevenção e denúncia sobre violência de gênero.
Durante a cerimônia de lançamento da iniciativa nesta sexta-feira, a promotora de Justiça Carla Brant Sebba Correa Roriz, titular da 13ª PJ, contou que a ideia do violentômetro foi apresentada a ela pela presidente da Associação Artemis, Danielle Nava, atuante na defesa de mulheres vítimas de violência doméstica. “Um panfleto afixado dentro de um ônibus chegará a cerca de 20 mulheres a cada hora. Imagine quantas serão impactadas ao longo do dia”, refletiu Nava.
De acordo com a promotora Carla Brant, o Ministério Público abraçou a proposta devido a relevância do tema, em sintonia com a raiz do Projeto Empoderar – Acolhendo Mulheres, já desenvolvido pela 13ª Promotoria de Justiça e que acompanha processos de, pelo menos, 50 mulheres vítimas da violência de gênero.
Em seu discurso, a promotora afirmou que muitas mulheres, por estarem dentro de um ciclo de violência, às vezes, nem se dão conta de que são vítimas. “Muitas acham que a violência é só física, quando, na verdade, as violências moral e psicológica machucam muito mais”. Ela reforçou ainda que, na promotoria em que atua hoje, tramitam pelo menos 3 mil processos envolvendo violência de gênero. “Atendo de três a quatro novas ocorrências por semana”, destacou.
A representante da empresa que realiza o transporte público de Anápolis, Allana Rocha Lopes, ressaltou que o grupo está feliz em participar do projeto, principalmente pela oportunidade de conscientizar tantas mulheres. “Estamos, inclusive, contratando cada vez mais mulheres para serem motoristas dos ônibus do transporte público. Começamos com 2 e, hoje, já são 15”, detalhou.
Robson Torres, secretário da Agência de Regulação de Anápolis, representou o município na cerimônia e salientou que a administração municipal apoia todas as ações desta natureza.
Carla Brant disse ainda que pretende, em breve, poder destinar recursos obtidos por meio de acordos de não persecução penal (ANPP) para ampliar o violentômetro, inclusive, levando ações para o Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA). Segundo ela, também é estudada uma parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para realização de palestras sobre violência de gênero com caminhoneiros.
A secretária de Projetos Especiais da Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Cristina Lopes, também participou da cerimônia. Em um relato emocionante, ela contou ser uma sobrevivente de crime de gênero, praticado contra ela pelo ex-marido ainda na década de 1980. “Sou uma mulher de 1,66 cm, estou vestida de branco, tenho cabelos pretos e muitas cicatrizes. Cicatrizes que nasceram quando tive 85% do meu corpo queimado pelo meu parceiro”, detalhou.
Na ocasião, a secretária afirmou que pretende estender a ideia dos cartazes para Goiânia, onde circulam diariamente mais de mil ônibus. E firmou ainda o compromisso de espalhar dez totens no prédio da Assembleia com o cartaz do violentômetro.