Rio de Janeiro – A inflação ultrapassou, apenas nos quatro primeiros meses de 2015, a meta perseguida pelo governo para o ano todo, que é de 4,5%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 4,56% no ano até abril, o maior resultado para o período desde 2003. A despeito do intervalo de tolerância (dois pontos para mais ou menos), o teto da meta também fica cada vez mais para trás. Em 12 meses, a alta é de 8,17%, a maior desde dezembro de 2003.
Na leitura mensal, porém, o IPCA desacelerou para 0,71% em abril, quase metade do verificado em março, diante da menor pressão da energia elétrica. O resultado ficou abaixo do esperado em média pelo mercado financeiro. Mesmo assim, foi o mais elevado para o mês desde 2011, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“De jeito nenhum é uma inflação baixa”, ponderou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do órgão. “Vemos que vários itens importantes no orçamento das famílias apresentaram resultados bastante significativos, como o condomínio. Daí podemos inferir que alguns itens estão contaminando outros, como no caso da energia elétrica, que pode ter levado ao aumento de outros itens”, afirmou.
A conta de luz ficou 1,31% mais cara em abril, bem menos do que o aumento médio de 22,08% observado um mês antes. Porém, elevações passadas estão sendo incorporadas agora aos preços de estabelecimentos como restaurantes e até por produtores de alimentos, que citaram a energia como uma pressão de custo.
“A difusão da alta da energia é rápida, ocorre entre um e dois meses. Então, isso ainda deve pressionar o IPCA de maio e junho”, comentou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Nos últimos 12 meses, a energia elétrica subiu 59,93%.
Juros
O resultado anunciado ontem, porém, não deve mudar os planos do Banco Central em relação aos juros, avaliou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada. “O resultado do IPCA não traz nada de novo em termos de política monetária”, disse. Segundo ela, as preocupações continuam, pois o núcleo da inflação, medida usada por economistas para retirar tanto os preços que sobem muito como aqueles que caem demais, segue elevado.
Perfeito prevê que a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,25%, chegue a 14,5% até o fim do ano, diante da necessidade de melhorar as expectativas para 2016. Na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o economista aposta em uma elevação de mais 0,5 ponto porcentual.
Em abril, a maior pressão individual veio dos remédios, que avançaram 3,27% por causa do reajuste autorizado pelo governo no fim de março. Sozinhos, eles responderam por 0,11 ponto porcentual na inflação.
Os alimentos, por sua vez, responderam por um terço do IPCA. Embora tenham perdido força, ficaram 0,97% mais caros, puxados pelo tomate, que subiu 17,90%. “O tomate é um produto muito sensível ao clima e à água. A seca tem afetado o produto não só na sua qualidade, mas também na sua oferta”, explicou Eulina, do IBGE.
Presente na mesa de quase todos os brasileiros, o pão francês ficou 1,75% mais caro em função do câmbio.
Além disso, a inflação de abril ainda foi impulsionada por aumentos nas passagens aéreas, nas roupas masculinas e femininas e nos eletrodomésticos. Por outro lado, gasolina e etanol ficaram mais baratos, o que levou à queda de 0,91% nos combustíveis no mês passado.
Em maio, os preços administrados devem voltar a pressionar, principalmente por causa da energia elétrica. (Colaborou Igor Gadelha)As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.