A Comunidade Quilombola Kalunga São Domingos, em Cavalcante, recebeu serviços de água tratada e energia elétrica pela primeira vez neste mês de dezembro.

A Sanego inaugurou no início do mês um sistema de abastecimento de água para beneficiar as 210 moradias do povoado. Foi instalado um poço tubular de 156 metros de profundidade e vazão de 30 metros cúbicos de água por hora, além de reservatório. Também foram implantados 6.500 metros de rede. Os moradores usufruem ainda do tratamento da água por cloração. As obras são resultado de investimentos na ordem de R$ 500 mil.

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Para levar eletricidade, a Enel instalou 600 postes e construiu cerca de 33 quilômetros de novas redes de distribuição. As conexões das residências à rede são feitas gradativamente ao longo do mês de dezembro. As obras resultam de um investimento de R$ 2,5 milhões e integram o Programa de Universalização de Acesso à Energia Elétrica, do governo federal.

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Está é a quarta inauguração de conexões rurais feita pela Enel em menos de seis meses. As primeiras foram em Formosa (260 famílias), Flores de Goiás (800 famílias) e em povoados Kalunga de Cavalcante (170 famílias).

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Relatos do descaso

Os moradores do assentamento Kalunga relatam que os benefícios eram há muito esperados. “Desde quando tenho entendimento de gente, já ouvia falar que vinha água e energia para cá”, relatou Valdeir Soares de Sousa, de 42 anos, moradora da comunidade. Ela já não acreditava mais que essa “benção”, em suas palavras, chegaria.

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Na pequena cozinha da casa, ao lado do fogão a lenha e encostada na janela de madeira, dona Valdeir contou das dificuldades que os moradores do local enfrentavam até a data, considerada um marco para a comunidade. “Antes, a gente tinha água, mas carregada no balde, na cabeça. Em um tempo desse, era difícil sair debaixo de chuva e buscar água para lavar roupa, lavar vasilha. Hoje, nossa vida vai mudar totalmente”, comemorou com um sorriso estampado no rosto.

Valdeir trabalha como merendeira na única escola da comunidade. Segundo ela, era recorrente os 68 alunos da unidade escolar ficarem sem lanche por dificuldades enfrentadas, tanto pela falta de água como de energia. Além disso, relatou, “os meninos usavam o mato como banheiro”. “Como usa o banheiro sem água?”, questionou. “Agora vai ser uma benção. Não temos palavras para agradecer”, ressaltou.

A energia elétrica instalada na comunidade aflorou o empreendedorismo na mente das pessoas. Valdeir, que já havia tentando montar uma padaria e um pequeno restaurante no local, vê, com a chegada dos benefícios, a oportunidade de garantir renda extra. “Fazia almoço e sobrava muita comida para janta. Jogava tudo fora. Se tivesse uma geladeira, a gente colocava e servia para outra pessoa”, disse. “Agora dá para continuar [os projetos]. Até meu filho quer tocar um açougue”, acrescentou.

Aos 74 anos de idade, dona Filomena Gonçalves Santos vê na infraestrutura básica, um artigo de luxo. Com apenas uma torneira em casa, ela comemorou o fato de não ter mais que buscar água no rio para fazer serviços rotineiros, como lavar vasilhas e roupas. “Sou nascida e criada aqui. Já sofri demais”, afirmou sobre a falta de água e energia na comunidade.

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